Anseio pela maior junção de palavras que me permita exprimir e não espremer o sabor do fruto dos meus dias. Se cada olhar me prende pelo infinito, como poderei esgrimir argumentos entre o incalculável e imensurável? Os dias são eternos, cada milésimo de segundo replica-se eternamente, sempre à espera que eu volte atrás e retome a vida que ficou naquele(s) instante(s). Engana-se quem da vida conta horas e anos. A vida é o constante movimentar pelo universo e multiverso, de forma tão rápida que nos encontramos a nós próprios em todos os locais no mesmo instante… A omnipresença representa-se pela inexistência, algo a que me reporto para me encontrar. Não estou aqui, inexistirei ali.
Entrego corajosamente à solidão, o medo, a timidez e a espuma que sobrou da última maré. Faz-se mar, mesmo a água que nunca choveu, numa espécie de arremesso da covardia onde se obtém apenas como eco o silêncio e a revoltosa ignobilidade de um sopro em forma de aroma de café. Cobre-te, criança, o frio da insatisfação pode hipotermar-te as ideias e os neologismos. Capicuo-me de forma às minhas ideias utópicas fazerem sentido ou, talvez, seja apenas o meu desejo de da trindade santíssima sobrar um numeral que não menospreze quem se deixa adormecer de pé ou, sabiamente, se deita e diz, com a certeza que une os loucos e aqueles estranhos seres desassociados da sociedade actual, “por hoje já está, amanhã deus dará”.
Precisamos do nada para descobrirmos e desmascararmos o tudo. Previsão para os próximos minutos: horizonte nublado pelo vapor da chávena de café, calor na palma das mãos, humidade relativa em crescendo , pelo menos até o ar quente que a combustão da lenha que crepita me trouxer memórias de tempos de outros tempos, como agora, quando não sei se estou já do lado de cá da vida ou já adormecido a olhar pela última vez para trás e reverenciar a visão deste pequeno berlinde azul antes de rumar ao inexistente infinito. Sobra pouco, muito pouco, de peças caídas do meu relógio. Creio ter acreditado que o tempo era medido por mim e, talvez por isso, dias de hoje me saibam a segundos quando, por sua vez, segundos de viva Vivida em catraio me estejam ainda nas covas dos dentes e no fundo da retina circundados de verde. Antes, um campo cheio de água era poço de aventuras, hoje é ponto inicial para, não se perca a rima, uma conversa banal.
Tempos houveram, tempos e nós, de admiração e pacatez, entre a vida e o que o caminho de terra em nós fez. Agora sobramos adultos, campos cheios de água na qual não sabemos brincar. Adultos. Vultos. Deixo-me agora regar, aproxima-se caronte, mas de mim leva apenas uma barca sem água onde navegar, nem uma moeda, coitado, de cego não sabe que o caminho se vislumbra melhor de joelhos, após uma queda. Sobra pouco, muito pouco e por isso me sinto pleno, mais pleno.