O ano letivo findou para os alunos. Nós, professores, por cá andamos na azáfama das avaliações, reuniões, classificações, arrumações e reflexões.
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ELISABETE RIBEIRO |
E é neste contexto avaliativo que me surgiu em mente contar duas histórias muito simples. As personagens são fictícias mas os factos são reais… a minha realidade e de muitos outros professores!
” Olá. Sou o António. Tenho 8 anos e estou no 2º ano. Quer dizer, os meus livros são do 2º ano mas eu nunca pude trabalhar neles. Não sei ler e escrever só mesmo a copiar. Estou ao lado dos meninos do 1º ano. Faço tudo como eles. Estou a repetir tudo o que trabalhei ano passado. Fui muito bem mas quando começaram a aparecer aquelas confusões nas palavras… os casos de leitura, deixei de conseguir acompanhar. Já fui a muitas consultas para tentarem descobrir o que se passa comigo. Em breve saberei os resultados. A matemática e estudo do meio sou bom… mas como preciso de ler para entender o que tenho de fazer, se não tiver ajuda, ou não faço ou faço mal. Já sei que vou ficar novamente no 2º ano. Talvez consiga, em setembro, pegar nos meus livros que ficaram parados este ano…”
” Eu sou o Rui. Tenho 7 anos e estou no 1º ano. Sou atento e aplicado, mas isso não chega pois esqueço-me muito rápido daquilo que a professora ensina. Gosto de ir ao quadro apenas porque sei que a professora vai ajudar-me a escrever. Nos exercícios ortográficos é tudo erro. Conheço as letras todas mas na hora de ler, preciso muito da ajuda da professora. Os meus colegas já sabem ler as perguntas dos exercícios… eu tenho de me desenrascar. Ou peço à colega do lado ou à professora. Ainda não disse, mas a minha turma tem meninos do 1º e 2º anos. Gosto de matemática mas só consigo contar para a frente. Quando é para responder o antes e o depois, confundo-me todo. A minha professora encaminhou-me para umas consultas. Fiz lá uns testes muito fixes. Se calhar a minha professora já tem os resultados. Vou passar para o 2º ano. Vou ter livros do 2º ano mas não vou poder utilizá-los porque ainda não sei ler nem escrever sozinho…”
Discordo veementemente da não retenção no 1º ano. Muitas razões poderiam ser aqui enumeradas mas este artigo não é nesse sentido. Apenas pretendo que, tendo em conta estas duas realidades apresentadas, opinem sobre isto: retenção no 1º ano: sim ou não?