
Jardins de Armida e sofrimento, necessidade do verdadeiro e sofrimento, sede do real e sofrimento, ódio pela aparência e sofrimento. Bem o sabia Nietzsche, o habitante da sétima solidão, essa, que só acontece ao eterno viajante, àquele que está destinado a avançar com o pé ferido e cansado, mas avançando sempre, porque nenhum repouso pode convir-lhe e nenhuma viagem é levada a cabo de boa vontade, nenhuma viagem é empreendida porque o viajante deseje ser viajante mas porque o repouso lhe apresenta a visão das belas coisas que não o souberam reter…elas é que não o souberam reter, ao viajante, elas, as belas coisas, afinal as belas aparências, nascidas em noite de lua e levadas no primeiro palor da aurora! Jardins de Armida e coros lamentosos, vindos de tormentas míticas, mas encontradas no mundo real, quando se busca o repouso e nos é retirada constantemente a almofada de penas onde achávamos ter, enfim, aportado. Eu, que assim vou até ao cerne da alma deste filósofo/poeta, ora perdido, ora encontrado e sempre vivo, como se fosse um gémeo em quarto minguante que, sem eu me dar conta, vai passando, por entre as nuvens, todas as fases até ao plenilúnio e, subitamente, me esplende na face em noite de olvido, dizendo-me, estou vivo e ainda sou a outra parte de ti, esse que conheci quando era muito jovem, mas já inquieta, esse, cuja vocação solitária ousei em vão contrariar, sopra-me sempre, aos ouvidos alerta, esta visão de Armida e dos seus jardins, estes coros quase angélicos em noite de dor, e eu sei que com ele viajarei sem repouso, descalça, entre montanhas nevadas, deixando para trás as belas coisas, essas que foram incapazes de reter-me e a quem lanço na partida o mais feroz de todos os meus olhares. Suficientemente feroz, para desencorajar as coisas boas de me lançarem o repto, suficientemente feroz, para as amedrontar no seu fervor pusilânime e narcisista, suficiente feroz, para que elas não tenham remorsos de não me terem retido em tempo oportuno.