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TROPA DE ELITE: FICÇÃO OU REALIDADE?

 Há dias, lembrei-me de uma cena do filme “tropa de elite” realizado por José Padilha em 2010 com o ator Wagner Moura no principal papel. Um cidadão morador numa favela do Rio de Janeiro vai até à esquadra em ano de eleições e denuncia a truculência e o abuso da polícia, abuso de poder e as milícias do Rio de Janeiro. Pouco depois, num sinal de trânsito, um carro para ao lado do carro dele, faz vários disparos a sangue frio e sai sem levar nenhum bem ou objeto de valor. Essa é uma cena do filme “Tropa de Elite 2” que conta a história de um assassinato que foi feito como “queima de arquivo” (ocultação de provas). No passado dia 28 de Fevereiro, uma mulher negra, vereadora eleita pelo povo pobre e excluído das favelas da cidade, ativista pelos direitos humanos foi nomeada pela autarquia, como relatora para acompanhar a recente intervenção militar feita no Rio de Janeiro, ordenada pelo governo federal, supostamente para acabar com a elevada insegurança e criminalidade na cidade. No dia 10 de Março, ela denunciou a truculência, o abuso de poder e as ameaças aos moradores do “Bairro do Acari” (um dos muitos bairros pobres da “cidade de Deus”), feito pelo quadragésimo primeiro batalhão da Polícia Militar. No dia 14 de março ela promoveu um encontro num outro bairro (a Lapa), chamado “Jovens Negras movendo as estruturas”. O nome dela era Marielle Franco. Era mulher, era negra, era mãe. Saindo de lá, ao voltar para casa, um carro parou ao lado do carro dela e ela foi alvejada, por pelo menos, cinco tiros, a sangue frio, na cabeça. Ela e o seu motorista foram brutalmente assassinados, depois de uma denúncia contra a polícia em ano de eleições. E tal como no filme “Tropa de Elite” nenhum bem ou objeto de valor foi levado.A vereadora do PSOL denunciou publicamente no sábado, crimes que teriam sido praticados por agentes da polícia militar e fez um pedido: “parem de nos matar”. O que sucedeu depois é de um horror inimaginável e tem um valor simbólico que não podemos desconsiderar. Toda a gente sabe que o Estado de Direito sobrevive apesar da existência do crime organizado. Cabe à justiça penal investigar e punir, de acordo com o devido processo legal. Mas um Estado que tolera milícias cujos integrantes sejam também agentes do próprio Estado já não é um Estado de Direito. Por uma razão simples: os agentes do Estado tornam-se bandidos e um Estado que o aceita converte-se num Estado-Bandido.

Em resumo:

O assassinato brutal de Marielle Franco, a quinta vereadora mais votada do Rio de Janeiro, feminista e defensora dos direitos das minorias negras e pobres das favelas da “Cidade de Deus”, no que foi uma execução premeditada, é mais um triste e infeliz episódio de um país que “se perdeu pelo caminho”. Tal como o “Titanic” em 1912, navio considerado “inafundável”, acelerou em direção ao “iceberg”, o Brasil caminha “apressadamente” para uma sociedade onde reina a mais completa impunidade, governada por uma “legião” de corruptos, com uma polícia que em muitas cidades super povoadas não protege os cidadãos, é cúmplice de traficantes e criminosos, onde impera um sistema judicial tendencioso que protege os mais ricos e poderosos e onde os mais pobres são o “elo mais fraco” da cadeia. Como ontem referiu o comentador Miguel Sousa Tavares, no Jornal da Noite da SIC, “No Brasil, cheira a golpe militar”

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