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EDUCAR COM O CORAÇÃO

 A última semana de aulas, antes da pausa letiva da Páscoa, é como um comboio dos antigos, os alunos embarcam nela como os passageiros na carruagem a todo o vapor. Se estes se deleitam com as paisagens, nas salas de aula, após avaliações, os jovens sentam-se e deleitam-se com o decorrer do tempo! A inércia toma-lhes conta do corpo e evidenciam com carinho a preguiça e a falta de vontade de estarem alí.

Hoje, dia 21 de março, propus aos alunos afastarem as mesas e todos sentados em círculo iríamos celebrar o dia Mundial da Poesia! A primeira reação não foi positiva, pois apesar de estarem a achar graça à forma diferente de nos sentarmos na sala, a palavra poesia bateu-lhes forte como sendo algo desinteressante para fazer nos últimos dias de aulas de português.

Expliquei-lhes que esta data foi criada na 30ª Conferência Geral da UNESCO em 16 de novembro de 1999 e que neste dia a poesia traduz a forma como comemoramos a diversidade do diálogo, a livre criação de ideias através de palavras, a inovação a criatividade. De forma ilocutória e até um pouco teatral levei-os a pensar que mesmo as vidas difíceis, que muitas vezes habitam debaixo do nosso teto, podem ser a motivação, o arranque para num papel se começar a escrevinhar palavras carregadas de emoção.

Li-lhes versos soltos e simples escritos por Luís de Camões, Fernando Pessoa, António Nobre, Florbela Espanca, Miguel Torga, António Cabral, Sophia de Mello Breyner Andersen… e ouviram com atenção! Pedi-lhes que fechassem os olhos, respirassem e sentissem … A brincadeira, os sorrisos atrasaram o exercício, mas de repente alguém suspira fundo e começa a contar uma história e que por sinal tinha marcado a sua vida! Os olhos traquinas centraram-se no colega, ouviram-no e comoveram-se silenciosamente! Aquele menino que não gosta de estudar e não gosta de participar na sala de aula sentiu-se ouvido com atenção e respeitado, ainda que a sua história seja daquelas que marcaria qualquer um que a ouvisse. Ele ganhou o respeito dos colegas e foi a motivação para que outros lhe seguissem as pisadas e todos realizaram uma boa prova de oralidade. Os minutos restantes foram gastos no saber ouvir, saber compreender e refletir…

As aulas deviam ser todas assim!!: – proferiam os alunos felizes pela cumplicidade entre todos, no final da aula.

Já não é a primeira vez que abordo estas temáticas e sempre que volto a elas é porque estes alunos, os que mais precisam de acompanhamento, não têm na escola currículos alternativos que lhes interessem e a desmotivação é um carrocel em grande movimento.

A sociedade tem que terminar de encarar a escola como um local para ensinar, mas olhá-la como um local para aprender…onde cada aluno deve andar ao seu ritmo, variando de matérias quando achar que solidificou a que aprendeu. Os alunos não são depósitos para encher de conhecimentos, terminemos com o ensino expositivo e levemos o estudante a saber pensar e, sempre que possível, fora da sala de aula!

É urgente renovar o ensino em Portugal, pois se nada acontecer…a escola não passará de um entretém de crianças rebeldes e uma “fábrica” de preparação para exames nacionais.

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