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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO TEXTO POÉTICO (UM CASO DE SUCESSO)

Hoje a aula de Português foi um imenso feliz alarido.

O motivo? Introdução ao estudo do texto poético.

Não é a primeira vez que isto me acontece, quando toca a iniciar as aulas alusivas a este género literário. Tratando-se de um conjunto de aulas com conteúdos que são, para muitos professores, uma verdadeira “dor de cabeça”, já que os alunos dizem não apreciar o texto poético, não sei muito bem explicar qual é o segredo de tanto entusiasmo por parte dos meus alunos. Mas creio que o principal, se algum segredo há, reside na naturalidade e simplicidade com que faço a abordagem inicial.

(aliás, logo no início do ano lectivo, os alunos questionaram-me sobre quando iríamos estudar poesia, pois já eram meus alunos do ano passado e essas aulas tinham-nos marcado positivamente)

Começámos com uma leitura expressiva do conto “Raízes”, de Mia Couto.

O alarido foi logo mais que muito, já que o texto contém calão e os alunos estariam autorizados, em plena aula, a dizê-lo (lê-lo) em voz alta – “Uau!, isto tem um palavrão: «– Corta essa merda das raízes ou lá o que é…». Tem um palavrão, stora!”; “Tanto entusiasmo com um palavrão, esperem até estudarmos Gil Vicente”, respondi eu. E o entusiasmo cresceu nos brilhos dos seus olhos.

Assim que acabámos de ler o texto, a aluna F. fez uma rápida e inocente observação sobre Mia Couto: “ele inventa um bocado muito”. Ora, aqui estamos nós, entrados já num dos principais requisitos para se estar aberto à leitura, análise e interpretação do texto poético: imaginação, invenção, ficção quanto baste. Isto e a aceitação natural de tudo isto.

O texto termina com a frase «Nesse dia nasceu o primeiro poeta», partindo do pressuposto que era um homem que passara «a andar com a cabeça na lua».

Daqui para a frente, tudo ficou facilitado para entrar no mais básico da poesia – criar jogos de palavras, campos lexicais e semânticos –, para progredir, em aulas seguintes, para o mais complexo. Foi também o momento de criar neologismos. Foi tempo de “escreviler” e “falinventar”,  como tão bem faz o escritor Mia  Couto. É então que o aluno J. diz que o poeta é “imaginatário” e “engraçoso”, enquanto que a B. diz que é “adoratável”. Fiquei também a saber, pelo aluno A. que quando se entende muito bem um texto, com a boca, com todos os sentidos, ficamos a “percelamber” tudo. Às duas por três, alguns de nós já tínhamos a “boca abrida” de espanto.

E pronto, cá por nós escusam de se preocupar: estamos arrumadinhos para estudar poesia. Temos a mente aberta a todo o non-sense e a estamos dispostos a inventar uns bocados muitos. Ah, e temos o espanto necessário. Até estamos a pensar em apropriarmo-nos das palavras de José Gomes Ferreira, com o João Sem Medo, para colocarmos um cartaz na porta da sala: “É proibida a entrada a quem não andar espantado de existir”.

Poemamo-nos!

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