Crónica de um turista português na Polónia
Das minhas viagens, que já são algumas, esta foi a que mais a leste me levou. A Polónia é um país da União Europeia que cuja economia é considerada uma das mais saudáveis dos países pós comunistas e que, por ter um mercado interno forte, um baixo endividamento dos privados, não estar dependente de um único sector exportador, uma moeda flexível, o Zloty, conseguiu suportar bem a recessão de 2009. Com um PIB per capita de cerca de 67% da média da União Europeia, o custo de vida, para nós portugueses, com cerca de 75% dessa média, faz da Polónia um destino turístico apetecível.
A nossa visita começou em Varsóvia, capital da Polónia, que nos conta um pouco da história da europa central, sobretudo a do período negro da II Grande Guerra Mundial que arrasou a cidade. É uma viagem entre palácios e jardins de uma cidade classificada Património Mundial. O que vemos hoje é um magnífico trabalho de reconstrução segundo os planos originais: durante a Segunda Guerra Mundial, a seguir ao Levantamento do Gueto a cidade inteira revoltou-se, levando Hitler a ordenar a sua destruição e a deportação maciça dos seus habitantes. O gueto judeu de Varsóvia chegou a ser o maior da Europa, e um dos mais terríveis palcos do Holocausto; mais de um milhão de deslocados de todos os cantos do país foram empurrados para esta pequena parte da cidade, e no ano seguinte um quarto dos seus habitantes já tinha morrido de fome e epidemias. Depois começaram as deportações para os campos da morte, sobretudo Treblinka e Oswiecim nome da cidade à qual os nazis chamavam de Auschwitz. A construção do chamado realismo russo de inspiração estalinista tornou a cidade um pouco uniforme e algo cinzenta.
Eu tinha uma curiosidade de conhecer o local da assinatura do célebre Pacto de Varsóvia onde, em 1955, os países do leste comunista liderados pela URSS respondiam num documento, quase decalcado do tratado Atlântico Norte – NATO ou OTAN, onde se pode ler entre outros artigos que um ataque a uma das nações seria considerado um ataque a todos e em nome da legítima defesa todos retaliariam. Para alguém que como eu viveu na década de 80 a ameaça de uma guerra nuclear entre as duas superpotências EUA e URSS era uma realidade que, paradoxalmente, ou não, foi afastada pela existência destes dois tratados.
Mas, deixemos a história e falemos do turista português na Polónia. Você vai sentir-se, literalmente, a leste. Não só pela cultura e história, mas pela dificuldade em comunicar, principalmente, com os mais idosos, que foram obrigados a aprender russo ou alemão na escola, o que nos dá a sensação de uma certa antipatia. Mas, por outro lado, os jovens que falam inglês são de uma simpatia e disponibilidade para ajudar os turistas inexcedível, ao ponto, de ligarem os seus telemóveis à internet para ajudar o turista na intrincada rede de transportes, nada fácil de entender intuitivamente. Prepare-se porque os restaurantes fecham às cinco da tarde, os shoppings fecham às dez e algumas lojas fecham às 21.30. Os hotéis, são de uma qualidade acima da média, mesmo para um 3 estrelas, cujas dimensões dos quartos e casas de banho não ficam a dever aos hotéis de 5 estrelas aqui em Portugal e são baratos. Passear pela cidade não é fácil mas, com um bilhete de 24 horas pode andar de elétrico, bus, ou metro pela módica quantia de 15 zlótis o que equivale a cerca de 3.6€! Visita obrigatória é o Castelo Real, junto à coluna do Rei Sigismundo, donde se vislumbra o Rio Vístula e ao longe o impressionante Estádio Nacional, mesmo ao lado do gueto onde existe uma estátua de homenagem às crianças que lutaram contra os nazis. Outra visita marcante foi ao museu POLIN – Museu da história dos judeus polacos que fica num edifício moderno, mesmo em frente ao monumento ao gueto
Ficámos hospedados num Hotel Hetman três estrelas, com o meu meio preferido para me deslocar numa grande cidade, o metro, mesmo ao virar da esquina da Dworzec Wilenski, onde a linha 2 nos levava diretamente à praça do Palácio de Cultura. É fácil andar de metro pois só têm duas linhas.
A estação central, uma das três estações da capital polaca, Warsawa Centralna, é mesmo junto ao monumental Palácio da Cultura e da Ciência e que nos iria levar até à bela cidade de Cracóvia.
Depois de dois dias em Varsóvia acordámos com um nevão que, rapidamente, pintou a cidade de branco. Rumámos à cidade de Cracóvia por comboio, numa viagem de quase quatro horas, que seria evitável se fossemos de comboio de alta velocidade, o que fizemos na viagem de regresso a Varsóvia em cerca de duas horas com um conforto assinalável. Cracóvia vai ficar para sempre como uma das minhas melhores lembranças. É uma cidade lindíssima. A rivalizar com Praga a capital Checa. A Basílica de Santa Maria é a igreja gótica mais bonita que já vi, quer por dentro, quer por fora e fica na Praça Principal do mercado, uma das praças maiores da europa. Que privilégio foi jantar no Hard-Rock Café de Cracóvia, mesmo junto à Basílica e com vista para a Praça. Nesta cidade ficámos instalados no Hotel System sp. Zoo, de construção moderna e requintado mas com o inconveniente de não ser central. Tínhamos de apanhar o Bus 537 que demora a chegar mas tem o condão de nos levar para a Estação Central de Cracóvia. O bilhete de 24 horas é também de 15 zlótis. No dia seguinte, posso dizê-lo, um dos dias mais impactantes na minha vida, pois tive a oportunidade de ir a Auschwitz e Birkenau ou Asuchiwitz II. Saímos bem cedo da Estação Central onde apanhámos um autocarro para Oswiecim numa viagem de cerca de 70 Km. Chegados lá a inevitável fila para adquirir a entrada no Museu de Auscwitz, que, a partir da uma da tarde é gratuita, pois a visita é quase impossível. Tem de reservar um dia inteiro para visitar os dois campos de concentração. Enquanto se esperava pela hora de entrada da visita ao museu, os visitantes podem apanhar o autocarro, gratuito, que os leva a Birkenau ou Auschwitz II, o campo de extermínio Nazi. As visitas são marcantes. Há lugares no mundo que são assim, nos marcam para sempre. Não se fica indiferente. Como é possível ter acontecido? Prepare-se bem mentalmente, a maioria das pessoas que vai a este campo de concentração emociona-se. À entrada a frase “ Arbeit macht frei” que significa “ o trabalho liberta” que estava em todos os campos de concentração nazis. Não é possível ficar indiferente ao ver os cabelos que cortavam para vender à indústria têxtil, ao amontoado de sapatos, de próteses, de óculos, de escovas, das malas com os nomes das pessoas, das fotografias… Não é possível ficar indiferente ao se entrar no crematório… Não é possível ficar indiferente ao famoso bloco 11, o pavilhão onde as SS torturavam os prisioneiros e à saída o muro. O muro onde as pessoas eram mortas a tiro. Ninguém pode ficar indiferente e este museu existe por isso mesmo. Termino com esta frase: “MILHÕES DE PESSOAS NO MUNDO SABEM O QUE FOI AUSCHWITZ, MAS A QUESTÃO BÁSICA CONTINUA NO CONSCIENTE E MEMÓRIA DAS PESSOAS, E SOMENTE DEPENDE DE SUA DECISÃO SE ESTA TRAGÉDIA VOLTARÁ A ACONTECER. SOMENTE AS PESSOAS PUDERAM CAUSÁ-LA E SOMENTE AS PESSOAS PODEM IMPEDI-LA”. (PROF. WŁADYSŁAW BARTOSZEWSKI, EX-PRISIONEIRO DE AUSCHWITZ).