Irredutível é o suspirar da miragem, ela que me invoca tão estranhamente no indefinido. Não tomo partido de mim mesmo, não esfrio pensamentos, não enxugo lágrimas de ninguém.
Era escrita uma carta, uma carta que levava tudo dentro, até o suspiro da tua ingenuidade. Toda a gente pensava que eu era o tal, tu pensavas que eu era o tal, o tal que transparecia insignificância, egoísmo, vaidade. Nunca as minhas palavras me tomaram por quem eu não sou, nunca o tempo invejou os meus desabafos, nunca o caminho se desviou dos meus pés, nunca os meus segredos se deram por derrotados, mas a alma fica como uma vida inacabada.
Todos os dias são como histórias não contadas, amava-te até ao ponto de me conhecer a mim próprio, sonhava ser a roupa que vestias e, enquanto me mentias, suava-me a pele por acreditar em ti. A partir daí sonhei ser tudo, enquanto tudo desistia de mim. Em que deveria acreditar? Em génios? Em iluminados? Em moradores e filósofos de rua?
Quando me cruzei com a estrada, soavam vozes, mas não era a minha loucura, nem nenhum intérprete, eram chamadas de atenção. Tudo o que eu tinha naquele momento eram versos, estava escrito nas tabuletas, ” vem por aqui”. Estupidamente acreditei em tabuletas, quando deveria acreditar em humanos… senti-me um à parte no meio de tanta gente, pensamentos cruzados como quem mente, e a inveja está tão aquém de quem sabe bisbilhotar.
Olho o piano, tocam-me as palavras, quando te foste embora, e chora, chora a flor que murchou nos meus braços.