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UMA BELEZA ESCONDIDA

Algumas palavras não deviam ser usadas em determinados contextos. Que me proíbam de dizer umas asneiras de vez em quando, tudo bem, aceito… que me sinta forçada a agradecer, a cumprimentar, a despedir, tudo bem, eu aceito… Mas aquelas palavras que exprimem opinião ainda me causam algum desconforto. Ainda me sinto presa no momento antes de os meus lábios se separarem e a minha voz as fazer ecoar por entre o que me rodeia. Prefiro não as usar. Penso que elas causam uma grande desafinação na sinfonia da sociedade.Como quando as pessoas dizem abertamente ao mundo o que é bonito ou não. Isso incomoda a minha alma. O que é bonito afinal? O que é que as coisas são para as pessoas as denominarem bonitas? Não gosto dessa palavra. Usam-na para apreciar tudo aquilo que é apreciado de maneira diferente pelos múltiplos olhos que existem. E é por isso que há confusão. E porque depois há quem não ache nada bonito. E começa assim uma guerra de opiniões que se tentam constantemente sobrepor umas às outras. Opiniões… Podem ser um motor de tanta evolução neste mundo e, no entanto, são tantas vezes o seu maior destruidor.

Não sejamos bonitos.

Continuam a dizer que bonito é algo que todos aspiramos ser, sempre que acordamos, prontos para enfrentar um novo dia. Através do estilo, ou então através da descoberta de algum tipo de beleza interior que parece socialmente correta e adequada a todas as situações diárias. A educação e o saber estar são necessários, sim. Mas porque não os usamos à nossa maneira? Ou porque não usamos uma peça de roupa porque gostamos realmente dela e porque ela define a nossa personalidade, e não apenas porque “está na moda”? Não sejamos bonitos. Sejamos inteligentes, interessantes, amáveis, engraçados, aventureiros, talentosos, malucos, únicos…- há uma eternidade de coisas para sermos além de bonitos.

“E o que é bonito afinal?”, pergunto-me vezes sem conta… Não passa de um conjunto de letras postas umas ao lado das outras para formar uma palavra. Obviamente que não posso julgar todas as palavras desta forma, caso contrário transformar-me-ei num ser incomunicável. No entanto, em relação à palavra “bonito”, ou todas aquelas que exprimam uma ideia semelhante e que vive de um modo tão diferente no cérebro de cada ser humano, prefiro não a manter constante no meu vocabulário. Para mim não há coisas bonitas, ou pessoas bonitas. Cada composição de matéria existente no mundo tem as suas caraterísticas especiais.  Ninguém é bonito. Ninguém é feio. Apenas somos. Sem limites, em liberdade, somos. Somos a nossa própria definição de algo que se assemelha ao bonito, mas que nunca o será.

A nossa definição equanto pessoas será sempre indefinida. A minha sei que é. Pelo menos até deixar de respirar. Talvez  nesse momento algo me defina, mas hoje, eu sei que isso não acontece, pois uma definição exclui a possibilidade de mudança. Assim, apenas vivo, (in)certa de mim própria, longe de algum dia alcançar qualquer tipo de beleza, mas sempre perto de alcançar sonhos que percorrem os caminhos mais belos da minha alma.

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