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E SE A MORTE TIVESSE CURA?

Gosto muito de viver. É certo que há dias em que barafusto comigo (como se não bastasse, com os outros, também), e sinto-me a pessoa mais “qualquer coisa de má” que existe à face da terra. (Sim, tenho uma veia dramática.)

Reclamo, quase de manhã à noite. Ninguém me ouve, porque reclamo fundamentalmente comigo.
Mas depois, é chegado aquele momento em que olho para os meus pimpolhos – que é como quem diz: filhos – e rendo-me àquela verdade que às vezes me foge, ou como a minha mãe às vezes me diz:- “não podes é com o mimo que tens!” (As mães têm quase sempre razão!)
Contemplar as pessoas que amo faz com que tente colocar-me na pele do artista, que observa o meio para absorver o mais belo e transformar em arte. Nesses dias quase me sinto artista.
A minha mãe tem razão!
Além de ser: mãe, filha, esposa, neta, sobrinha (é chegada a hora do etc etc). Também tenho a todos eles e mais alguns (reticências?)
Tenho sobretudo amigos.
E falando em amigos, houve um que por estes dias teve a audácia de partir sem se despedir de mim. Confesso-vos que há muito não perdia alguém de quem gostasse tanto. Há muito que não perco ninguém.
Mas tinha que partir assim, sem aviso prévio?
Sem antes um: “Atina miúda! Um dia destes partirei e não saberei quando te voltarei a encontrar. Não poderemos mais tomar café, e pior que isso: não poderemos mais adiar o café para outro dia, para outra semana.” – Por favor, alguém me ensine a curar a morte com vida, porque quero ralhar muito com ele!
Comigo, tenho discutido todos os dias.
Pior que adiar o café é adiar o abraço, os sorrisos, as conversas, os momentos super “fixones”, e os outros, os menos bons. Aqueles que aprendemos a empacotar e a enviar para um lado, qualquer, com um nome muito feio. Um desses nomes feios que só dizemos frente aos amigos. Os de verdade. Os que nos fazem remendos e costuram-nos pessoas melhores.
Por favor, inventem uma doença que mate o cancro.
Melhor:
Por favor, alguém encontre um vírus que mate a morte, para que as despedidas comecem a ser apenas: mote de poesia.
E as lágrimas, por maioria, sejam de alegria.

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