Miguel Teixeira (MT): Tiago Corais, como é que um “Português de Braga” radicado no Reino Unido há tão poucos anos consegue ser eleito em tão pouco tempo, Vereador de uma cidade com a relevância histórica e cultural de Oxford?
É verdade que também penso que em quatro anos consegui realizar muita coisa, não apenas políticas, mas familiares e profissionais. Oxford é uma cidade multicultural onde toda a gente que vem para aqui viver sente-se em casa. O Labour party esforça-se muito por ser um partido que represente todas as comunidades e que todas elas tenham sucesso na sua integração, respeitando os seus valores e costumes. Ou seja, a integração “bidirecional” onde nós adquirimos parte da sua cultura e eles a nossa.
Outro factor decisivo para que tenha sido eleito City Councillor é que o processo de escolha de candidatos no Labour é transparente para todos os militantes e de baixo para cima. Para se ser candidato pelo Labour, primeiro tem que se ser militante há mais de 6 meses. Depois tem que se ter vontade de ser candidato, preencher o formulário anexando uma carta com as razões da nossa candidatura e porque entendemos ser bons candidatos. Depois existe uma entrevista com três experientes dirigentes do Labour em que um deles não poderá fazer parte da nossa secção do partido. As questões são difíceis e têm como objectivo atestar que os nossos valores estão alinhados com os do Labour, que a nossa participação no Partido dá garantias de que o nosso desempenho como Councillor seguirá os padrões do Labour e que não temos nenhuma situação que possa comprometer o Partido. Passando na entrevista estamos aptos para nos submetermos a candidato a qualquer círculo eleitoral (ward).
Para aumentar a minha probabilidade de ser escolhido, escolhi cinco círculos (wards) onde iria entrar na corrida. Os dois primeiros perdi e fui escolhido no terceiro que era aquele onde eu gostaria de ser o candidato do Labour por ser a minha área de residência. Desta forma poderei dizer que cheguei a este lugar porque tive vontade e dei o passo em frente.
(MT):Qual a função de um Vereador no sistema político do Reino Unido? Quais as suas competências e atribuições?
Aqui o poder local tem as competências e atribuições idênticas em Portugal. Planeamento da cidade, licenciamento, recolha do lixo. A diferença está no conceito de político local, aqui no Reino Unido é uma actividade voluntária e por isso a função não é a tempo inteiro, não têm salário, mas ajudas de custos, definidas anualmente por um painel independente que define o valor anual a receber. Por norma todos os City Councillors têm a sua actividade profissional. Os eleitos têm o ónus da decisão políticas, mas os colaboradores da autarquia têm a responsabilidade de execução. Existe um director executivo e colaboradores que ajudam os Councillors no seu trabalho. Todo o staff é independente dos partidos.
Outros dos trabalhos importantes do Councillor é ouvir os seus residentes da área em que foi eleito e resolver os seus “micro” problemas. Por exemplo, logo no dia seguinte a ser eleito fui contacto por um residente em Littlemore sobre o problema de detritos de cães na rua onde vive. Terei que fazer tudo para resolver esta situação, contactando as autoridades e sensibilizando a população para que mudem os seus comportamentos.
Para além destas somos aconselhados a fazer parte da direção de associações ou instituições de caridade. Ser City Councillor tem uma componente muito importante de proximidade das suas comunidades e de ser o seu interlocutor.
(MT):De que forma pretende assumir o seu mandato, em que medida entende que a sua ação e participação política no órgão deliberativo do município, pode melhorar a qualidade de vida dos habitantes da sua cidade e concretamente dos residentes em Litlemoore?
No meu mandato pretendo representar todos os residentes em Littlemore e ser muito proactivo em auscultar os seus problemas e sugestões.
A habitação é um dos problemas mais sérios no Reino Unido e em Oxford o problema ainda é pior. Oxford é considerada a cidade no Reino Unido onde a habitação é a menos acessível. Assim sendo, irei fazer tudo para que sejam construídas mais habitações acessíveis e de qualidade.
Outro dos meus planos será aumentar a frequência dos transportes públicos, aumentando a frequência dos autocarros e irei apoiar a reabertura da linha de comboio para passageiros em Littlemore
Como Europeu, espero conseguir influenciar a mudar a direcção do Brexit. Gosto muito do Reino Unido e quero o seu sucesso como nação. Acho que não existe um plano para o Brexit. A sua saída sem uma estratégia e um plano será desastroso para este País. Como Europeu espero poder ter uma voz activa neste processo e em especial ajudar a que Oxford permaneça com uma forte ligação à União Europeia.
(MT):Em que medida a sua eleição pode ser importante para permitir uma melhor integração dos portugueses e de outros cidadãos europeus no município de Oxford e de uma forma geral no Reino Unido?
Como disse anteriormente Oxford é uma cidade multicultural onde toda a gente vindo de fora se integra muito bem na cidade. Não é por acaso que no referendo sobre a Europa em Oxford mais de 70% votaram a favor da manutenção do Reino Unido na União Europeia. Perto de 30% dos residentes de Oxford não nasceram no Reino Unido. A Câmara de Oxford depois do Brexit de forma a sinalizar que todos são bem-vindo criou a Oxford European Association. Desta forma a minha eleição e da minha colega Francesa Nadine Bely-Summers como City Councillors representa o reforço do “ADN” de Oxford como uma cidade diversificada, inclusiva e com as portas abertas ao Mundo.
(MT):Que ações pretende dinamizar para permitir que os seus eleitores possam acompanhar o trabalho político que vai desenvolver a partir de agora?
De forma a que os eleitores acompanhem o meu trabalho irei continuar a bater às portas dos residentes de Littlemore de forma frequente como é prática do Labour em Oxford. Pretendo também criar um site e uma página nas redes sociais.
(MT):Quais os principais problemas com que se confrontam os munícipes de Oxford e concretamente os residentes em Littlemore?
Os principais problemas em Littlemore e Oxford são a habitação que não é acessível, em algumas área a frequência dos transportes públicos, noutras áreas é o estacionamento e o não cumprimento dos limites de velocidade. Outro problema sério que verifiquei na campanha porta a porta é que muita gente idosa vive sozinha em casa em Littlemore. Da minha parte irei estudar que mecanismo existem nesta área que possam pelo menos atenuar este problema.
(MT):Considera que o “Brexit” é irreversível?
Na minha opinião Brexit é irreversível, apesar de ter a noção que existe uma pequena probabilidade de no fim as partes perceberem que a sua implementação é difícil e o melhor é desistir da ideia.
Acho que o Reino Unido não tem um plano para o Brexit e se querem ser bem sucedidos é importante hoje serem honestos com os Britânicos e dizerem que é necessário um período de 10 anos de transição. Hong Kong e Macau antes de passarem para a China tiveram um período de 10 anos de transição. Não me parece que Brexit seja menos complexo do que estes dois exemplos.
(MT):O Tiago Corais é também Presidente do Partido Socialista no Reino Unido. Entende que a sua eleição pode ser importante para estreitar ainda mais os laços entre o “Labour” e o PS?
Sim, acho que a minha eleição poderá ser uma oportunidade de estreitar as já boas relações nos dois partidos “irmãos”. Ano passado o Labour em Oxford convidou-me para falar sobre a Governação Socialista e a “Geringonça”. Da minha parte tudo farei para que estes laços sejam mais fortes.
(MT):O que desejaria dizer aos eleitores que votaram em si e o elegeram vereador numa altura em que está a iniciar o seu mandato?
Gostaria de em primeiro lugar agradecer e de que tenho a consciência que o apoio e o resultado é uma grande responsabilidade. Irei fazer tudo para cumprir com o que prometi e que poderão contar com todo o meu empenho. Se tiverem algum problema que queiram reportar façam-no, ligando-me, enviando-me um e-mail. Prometo que responderei a todas as solicitações com honestidade e empenho.