Cultura, Literatura e Filosofia

O CÉU DO PENSAMENTO

Paro muitas vezes para pensar. Ou então penso sem estar parada. Não posso dizer que penso durante todos os minutos do dia, pois estaria a mentir. Pensar não enche o meu cérebro até todas as suas extremidades. Há lá para dentro outras coisas… Só penso quando sei que estou a pensar. O resto é menos explicável, no entanto, não é menos importante.

O futuro é o maior impulsionador para o meu pensar. Incomoda-me muito. Por vezes sinto dele um aconchego reconfortante, uma onda suave que leva pensamentos ao coração e murmura o que ainda está por acontecer da mesma forma que algumas músicas nos murmuram o que precisamos de sentir apenas com um arranjo de notas específico, feito extamente para aquele momento. Em ocasiões opostas, o futuro escurece o coração, como se os orifícios por onde o sangue entra e sai fossem tapados com um pano muito escuro, muito opaco. E o coração fica um pouco assustado. Provavelmente um susto supérfluo, se pensarmos no presente e chegarmos à conclusão de que estamos a vivê-lo, e que o futuro é ainda inexistente. Mas há futuros e futuros. Alguns futuros demoram anos, outros surgem no minuto seguinte. Por isso me incomoda tanto… Faz-me pensar no tempo como algo que na minha cabeça deveria permanecer como um único, mas que, no entanto, é esta mistura confusa de tempos mais pequeninos dentro de tempos maiores que nunca serão só um. Talvez o incómodo venha disso mesmo. Estou mais confortável com o que é linear. Quem não está? Mas depois volto a pensar, e o passado ajuda-me. Apercebo-me que quase sempre não é o linear que me traz sorrisos inesperados, olhares confortáveis sobre vistas que preenchem todos os vazios, momentos passados que vivo num presente que nunca imaginei como futuro em pensamentos anteriores.

Penso novamente… que isto de pensar não é assim tão lúcido. É um ato inteiramente ligado ao tempo, aquele com que batalhamos constantemente, por se estar a apressar demasiado, ou por estar a ter muita calma. Mas os pensamentos não têm pressa. Também não são serenos. Apenas representam o tempo real. Aquele que já foi, aquele que é, e um que é real no momento de pensar, mas que num universo paralelo tem uma duração diferente, uma que, um dia, acabaremos por descobrir. Pensamos dentro deste tempo labiríntico e percorremos caminhos cheios de solos e tetos diferentes. Agora penso. Talvez esteja aí a explicação para um céu diferente todos os dias…

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