Gosto de casas antigas. Com as claraboias provocadas pelo desabamento dos tetos a deixar passar a luz do sol que vai iluminando cantos e recantos… É verdade, muitas vezes já em escombros, permitem-me imaginar as histórias de vida que aquelas paredes com a cal descascada e os tetos a cair aos bocados… testemunharam. Algumas, e por efeito do passar dos anos, ainda mantêm nas janelas cujas vidraças partidas ou inexistentes, permitem ver as cortinas esfarripados e descoloridas, os móveis destruídos, vestígios de loiça aqui e ali. Quantas, e que tipo de refeições, foram servidas naquelas peças de loiça, agora em míseros cacos?
Que vidas foram vividas dentro daquele amontado de escombros, agora vazios de gente e de histórias? Quantas foram as tempestades que aqueles tetos abrigaram? Quantos os momentos felizes, marcantes, outros menos bons, infelizes até. Afinal, a vida não é feita apenas de momentos perfeitos, mas sim de momentos que dependendo das suas características, podem transformar vidas!
Imagino os rostos, as conversas, os planos, os risos e até os choros. Famílias que se constituíram sob o seu abrigo, crianças que nasceram e que desde o primeiro momento da sua concessão foram as paredes destas casas, as primeiras testemunhas dessa nova vida. Do seu nascimento, dos primeiros passos, da ida para a escola e a entrada na idade adulta. Posteriormente, e constituída a sua própria família, a saída para as suas próprias casas, mas o regresso ao “ninho” nos momentos especiais a sobrepor-se ao tempo. Até que o “ninho” se desfaz com a partida dos mais velhos da família e as casas vão-se com eles, como se com eles terminasse também a sua missão.
E chegado a este patamar, já não as vejo com os mesmos olhos. O aglomerado de escombros abandonados à sua sorte, faz-me sentir como se as famílias se tenham desintegrado também. Cada um seguiu o seu caminho deixando para trás, naquelas casas aos pedaços, partes das suas histórias.
É nesses momentos que deixo de as ver com o mesmo encanto, e sinto que preferia vê-las arranjadas e airosas, pequenas ou grandes é irrelevante, desde que habitáveis. Permitiriam continuar a ser testemunhas de histórias. Outras histórias, outras gentes…
Gosto de casas antigas. Têm histórias dentro!