É triste quando durante dias a fio vemos as nossas televisões quase só a transmitir programas de futebol. Não são de desporto porque, naqueles espaços, só se comenta futebol. Programas que até poderiam ter algum conteúdo didático, mas não. Só há espaço para o comentário e o comentário que se quiser: bem ou mal falado, com pontapés no português e na gramática “a torto e a direito”… não interessa se os comentadores falam mal ou bem, interessa que falem, que incendeiem.
Quando no nosso país há tanto, mas tanto para se discutir, tanto mas tanto que informar os portugueses… o país pára para discutir o mundo do futebol. O país pára porque as televisões param, porque os jornais, desportivos ou não, fazem diariamente manchetes com os mesmos assuntos de futebol.
“O futebol interessa às pessoas”, diz-me um amigo, “é do interesse público”. É? – pergunto eu.
Para mim não. Pelo menos não deveria ter nunca a dimensão que os media lhe dão, não deveria ter o estatuto de Informação nas redações do nosso país. O povo seria mais culto e mais bem informado se metade do tempo que as televisões despendem com o futebol privilegiasse outras temáticas sociais e culturais, se enaltecessem quem realmente merece ser enaltecido porque dedica a sua vida ao bem comum, por exemplo, ao invés de enaltecer e endeusar jogadores de futebol. Isso sim era de valor!
Um país que “adormece” tão facilmente com o futebol é necessariamente um país que lê pouco, que quase não vai a espectáculos culturais, que muda de canal quando o assunto é a política, que não vai votar no dia das eleições porque “são todos iguais”, que não percebe a luta de determinadas classes como a dos professores, por exemplo, e que se for preciso ameaça ou agride o professor que se atrever a castigar o seu filho. Um país que não percebe que a tática de qualquer treinador só é importante para os 90 minutos de bola, naquele espaço exíguo do campo, enquanto a tática de um governo, boa ou má, vai necessariamente condicionar a nossa vida, podendo até vir a hipotecar a vida dos nossos filhos num futuro mais longínquo.
Mas a culpa não é do povo. É dos políticos. E daqueles que só se levantam da cadeira quando as baratas lhes começam a coçar os pés.