É uma crítica recorrente e, deixem-me confessar, perfeitamente justa: a comunicação social de expressão nacional, a começar pelas televisões e a acabar nos jornais, salvo raríssimas e episódicas excepções, não liga a mínima peva ao que de positivo, agregador e entusiasmante se está a fazer pelo país, e sobretudo no interior. Quando uma desgraça acontece, um assassínio, um acidente, uma manifestação contra o encerramento do centro de saúde ou quando episódios de violência de qualquer espécie são conhecidos, as televisões saltam, como por encanto, para a rua, os jornais enviam pressurosas equipas de reportagem, as rádios dão directos emocionados para os principais serviços noticiosos.
O sangue, a violência, o sexo, o dramatismo, o exacerbado “vendem” páginas de jornais ou aberturas de telejornal, porque o “voyeurismo” dos portugueses é explorado até à alma. Tudo o que é negativo ganha lugar de destaque nos media, porque responde aos estereótipos do que alegadamente os espectadores e leitores estão à espera.
Vejamos o que sucede quando há atentados, mortes, crimes, seja lá onde for. E quem diz atentados, diz desastres, tragédias, como as que desafortunadamente aconteceram no centro do país em 2017. Horas e horas, dias e dias a falar do assunto em tudo o que é media!
Vejamos o que se passou ainda a semana passada, em Alcochete, com o inimaginável ataque terrorista de uma claque sportinguista sobre os jogadores e treinador do seu próprio clube, a página mais negra de violência que aconteceu em décadas a nível do universo desportivo neste país.
Aberturas e largos minutos de telejornal em todos os canais, a toda a hora, a totalidade dos programas de debate desportivo, páginas infindáveis de jornais, generalistas ou desportivos. Enfim, um sufoco!
Pelo contrário, as notícias positivas, quaisquer que sejam, mas sobretudo da área da cultura, aparecem na comunicação social de expressão nacional, quando acontecem nos palcos da capital ou, quando muito, do Porto. Ou quando o Presidente da República visita uma exposição, ou António Costa inaugura um museu. O resto do país e do tempo mediático, continuam, revoltantemente, a ser paisagem, não interessando minimamente às agendas dos editores dos grandes meios de comunicação, que não conhecem o território e que vão exercendo os seus pequenos poderes nos espaços em que se revêem, por razões nem sempre de índole informativa.
As afirmações anteriores traduzem algum pesar pela (quase) indiferença com que a grande comunicação tem tratado algumas das maiores manifestações culturais que acontecem na nossa região, seja em Fafe, em Guimarães ou em Amarante, normalmente promovidas pelas autarquias, que são nas últimas décadas os principais agentes culturais dos respectivos territórios.
A cultura está em alta pela província, sem qualquer dúvida, com eventos notáveis, quer em quantidade, quer em qualidade. Infelizmente, a comunicação social que leva a informação aos lares dos portugueses ignora o que se está a passar neste Portugal do interior, que não seja o centralismo de Lisboa ou do Porto.
É o geral silêncio sepulcral e ensurdecedor, quando coisas bonitas se estão a fazer em todas as cidades e vilas do país, que só são notícia, na grande comunicação, se qualquer Pedro Dias matar e andar fugido durante um mês, se uma caixa do Multibanco for rebentada pelos meliantes ou se um pai de família dizimar os filhos, por distúrbios mentais que ninguém conseguiu prever, apesar dos sinais!
Aí não faltam informação, holofotes mediáticos, tratamento noticioso.
Critérios, no mínimo, discutíveis e subjectivos!!!!!!!!!!!!!!