Está na mesa a proposta para legislar a Eutanásia. Ou o termo mais correcto será: oficializar?
Quem já acompanhou o processo de acelerar a morte poderá concordar ser uma experiência cruel, cortante, contranatura e irrepetível.
Enquanto que assistir ao nascimento dá alento, esperança, força, alegria, assistir à morte faz pensar, duvidar, enfraquecer, desistir ou quebrar. É de facto desconcertante assistir ao pedido, mas a maior vítima é quem a deseja, e não nós.
Como é que será pedir a morte depois de ensinar a viver?
Seja porque motivo for, para chegar a este ponto é porque a vida já não é de todo digna.
Imagine-se a pedir a morte para não sacrificar as pessoas que mais ama a lidarem com uma morte que demora a chegar ou por não conseguir conviver com o que está a doer sem nada mais poder fazer. Assistir ao pedido origina um misto de medo, revolta, frustração e desilusão, mas também a um desejo profundo de não o vir a pedir.
Como tudo na vida, esta liberdade, é um pau de dois bicos. Por isso, é bom que tenhamos a capacidade de pensar como “dar” consentimento ao desejo de morrer e como criar condições para dar apoio, identificando o pedido de forma consciente, racional e humano.
A vida é nossa. O corpo é nosso. E a morte também.
Concordo ser uma legislação que pode dar azo a elevadíssimas injustiças que jamais poderão ser corrigidas.
Será melhor deixarmos a prática da eutanásia sem qualquer protocolo inerente?
Se não a legislarmos para garantirmos que os maus intencionados não ganham: poder-se-á dizer que eles são mais valorizados do que uma morte digna?
Será mais importante impedir a eutanásia ou aprender como lidar com o impacto que é saber: ser o momento de morrer?
Viver melhor é difícil, mas poucos de nós imagina o quanto deve ser difícil querer morrer.