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Cidadania e Sociedade

EUTANASIARAM A LIBERDADE

O assunto parece sensível, controverso, constrangedor, meritório de apurada e maturada discussão, alvo de prós e contras, de debates infindáveis e de versões em igual número à dos opinantes. Poderá ser. Sem prejuízo, encaro o assunto de forma muito simples.

A Eutanásia, na forma como foi reprovada na Assembleia da República, constitui apenas e só uma reprovação à liberdade. Muitos foram já os temas que mereceram igual desinformação, contra informação, intervenções infantis e primárias, por parte de intervenientes de quem se exigia mais decoro e mais seriedade. Recordo a discussão em torno da descriminalização do consumo de estupefacientes, a possibilidade do casamento homossexual, a descriminalização da interrupção voluntária da gravidez. Temas que suscitaram alarvidades, infantilidades, abordagens primárias, mas que conseguiram sair vencedores, com intervenção dos eleitos e outros, diretamente dos eleitores.

O nosso País, parece, muitas vezes, ficar aquém da maturidade intelectual que lhe é reconhecida. O nosso País, o dos brandos costumes, mas que desde muito cedo esteve na vanguarda das liberdades. Desde o esclavagismo, até outras batalhas civilizacionais como as já anteditas. E todas, todas elas, batem no mesmo espírito. O espírito intransigente da liberdade, o espírito combativo que permite a evolução pela revolução, das mentalidades, não raras vezes. Mas é um País também agrilhoado por alguma incontinência verborreica, associada a uma hipocrisia atroz e que nos deixa a todos estupefactos. Vejamos:

Com os estudos recentes conhecidos, foi possível compreender que a descriminalização do consumo de estupefacientes permitiu uma recuperação e reintegração de muitos cidadãos com adições. A partir do momento em que lhes concederam liberdade e dignidade de escolha, muitos optaram por deixar uma adição. Note-se que nunca se disse a ninguém para começar a drogar-se. Com a introdução do casamento homossexual, muitos foram os casais que conseguiram ver, mesmo em termos jurídicos, a igualdade de direitos que todos os demais tinham e ultrapassar questões legais, para além das de preconceito. Note-se que nunca se disse a ninguém para se tornar homossexual. Com a descriminalização da IVG, foi possível evitar a morte de centenas de mulheres, milhares após estes anos, com a liberdade e dignidade que lhes foi conferida de serem acompanhadas no SNS. Este caso torna-se ainda mais chocante porque a hipocrisia era ainda maior. Muitos dos que se diziam contra, tinham já eles próprios experienciado em suas casas um episódio semelhante, mas a capacidade financeira permitia-lhes ir a outros países solucionar aquela situação que era vexante para a família. Note-se que nunca se disse a ninguém para interromper a gravidez.

Com a Eutanásia tratou-se do mesmo. Permitir atribuir liberdade e dignidade num momento de extrema fragilidade e que devemos ter também a liberdade de escolher. Estavam devidamente balizadas as condições, sem prejuízo de serem a qualquer momento melhoradas. Mas isso é outro assunto. Note-se que nunca se disse a ninguém para desistir de viver. Foi sempre a liberdade que esteve no espírito do legislador em todos estes momentos, e deve ser sempre a liberdade a ser tida em conta como princípio fundamental. Tudo o mais, foi um triste cenário de instrumentalização infantil, primário, bacoco e que em nada ajuda a evoluirmos enquanto sociedade. Que o assunto regresse, o quanto antes, porque são estes temas que mostram a nossa maturidade enquanto civilização.

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