10 de Junho é o dia das comunidades Portuguesas e do poeta Luís Vaz de Camões.
Um feriado comemorado com festas e, para alguns de nós, numa pausa no trabalho, não deixando de ser importante pensar no que significa: ser Português de Portugal.
Há que tirar o chapéu na forma como nos queremos qualificar: somos muito bons ou somos muito maus!
Constata-se, por exemplo, que temos um dos melhores sites das finanças da Europa; que somos um dos primeiros cinco países ao nível do sistema de saúde; somos um país onde mais línguas se fala; somos um dos melhores destinos turísticos do mundo; somos o quinto melhor país para viver e trabalhar; temos as melhores condições climáticas; oferecemos alto nível de segurança nas ruas; banhamo-nos por praias invejáveis; criamos as melhores condições para crianças; somos distintamente simpáticos e afáveis.
Por outro lado, constata-se que temos tendência a nos desvalorizarmos (o que é estrangeiro é sempre melhor); somos uma referência negativa na forma como tratamos os idosos; temos especialidades de medicina altamente ineficientes; temos um poder de compra baixo; somos um povo que não gosta de seguir regras.
Em ambos os pólos encontro factos para descrever até ficar sem dedos. Mas como relembra o meu amigo “o óptimo é inimigo do bom!”. Como quem diz: os extremos não são referência, tal como aprendemos em estatística e matemática. Ou ao longo da vida.
É bom quando nos apercebemos que conhecermos pessoas na função pública que trabalham pelo serviço ao povo, e não por interesse pessoal; quando encontrarmos doutores que são realmente médicos; por conhecermos poetas por prazer e não apenas por encomenda; quando insistimos criar famílias equilibradas; quando elegemos líderes por competência e por incompetência os tirarmos de lá; por conhecermos pessoas na profissão que se identificam e não apenas por dinheiro ou desespero.
Pertencermos a um país que dá oportunidade a um electricista em descobrir-se como cabeleireiro, apenas porque um dia começou a sonhar que os cabos podiam ser cabelos e não apenas porque o mercado da construção civil o atirou para lá.
Ser “o” exemplo é difícil. Mais difícil será ser “o óptimo exemplo”, onde o paradigma mental não pode ser o de ser apenas bom, em condições sociológicas e de mercado onde só os muito bons terão condições para viver percursos profissionais estimulantes e sustentáveis. Neste sentido, o bom poderá ser também inimigo do óptimo, sobretudo se se constituir como uma forma de auto-engano que nos impeça de ver a grandeza que surge em cada um de nós.
Para darmos mais honorabilidade a facto de sermos Portugueses de Portugal pode valer a pena não sermos demasiado exigentes (querer ser óptimo), aceitando a inevitabilidade de nos ficarmos por uma certa mediania (ser bom).