Todos nós conhecemos o Amor e vivemos este nobre sentimento de diversos e diferentes modos nos vários contextos onde estamos inserido e nos quais vivemos as nossas relações pessoais. Vivemos amor, sentimos Amor, demonstramos, mas poucas vezes falamos do Amor e o Amor é algo que deve ser falado e partilhado.
Nas nossas relações e, desde sempre, fomos habituados ao cliché de que o Amor sente-se e não é preciso nada mais para o viver, no entanto, quantas vezes falamos sobre o amor que nos une a determinada pessoa, que nos faz estar e sentir confortáveis numa determinada relação, que nos faz sair ou abandonar alguma relação? Certamente falamos poucas vezes sobre as nuances do amo, o que vai levando a um desgaste das relações onde não é suficiente os gestos, a consciência de que o amor existe e nos está a unir.
Por isso mesmo, posso vos falar de Amor? Posso vos falar sobre este sentimento e da importância em o mesmo ser falado, conversado, partilhado de formas mais objetivas, para fortalecer relações, para promover o aumento da nossa autoestima e do nosso amor-próprio? Posso vos sugerir como podem falar sobre o Amor?
Parem um pouco para refletir sobre as vossas relações, nos seus diversos contextos, onde o Amor está presente, como um sentimento universal que nos liga a todos os seres humanos, mas que depois é vivido de determinada maneira se for com família, amigos, companheiro/a, colegas, desconhecidos e connosco mesmos. Após essa breve reflexão certamente identificaram as pessoas que amam mais, as pessoas por quem são mais amadas, mas também aquelas a quem estão unidas, mesmo que temporariamente, em Amor, como é exemplo um gesto solidário, a ajuda a alguém desconhecido, as palavras amigas que dedicamos a quem nos procura nas redes sociais e que não conhecemos de todo.
De facto, não precisamos conhecer o Outro para partilhar amor com esse ser, pois nas nossas palavras o amor também vive, tal como nos nossos gestos, pensamentos, tal como em tudo que nos liga a algo ou alguém, transmitindo um sentimento de pertença, de partilha, união e relação. Porém, muitas vezes, é nas relações que vivemos com aqueles que amamos e fazem parte do nosso dia-a-dia que deixamos esmorecer o amor, porque deixamos de agir, de nutrir e de conversar sobre o amor.
Conversar sobre o amor é perguntar ao Outro com quem nos relacionamos como se sente na relação, como se sente consigo mesmo e na nossa companhia, é expressarmos como nos sentimos nessa relação, connosco e com o outro, pois podemos continuar a sentir Amor, não sendo o suficiente para permanecer em determinada relação, sendo muitas vezes motivo para a deixar pata trás, para podermos ser felizes, porque nos amamos mais do que ao outro, porque somos amor.
Ao colocarmos essas questões estamos a conduzir cada um de nós a um processo reflexivo sobre o que nos faz ficar ou sair de determinada relação, o que nos faz querer investir, nutrir ou renegar outras relações e para compreendermos como vivemos o amor, temos que falar sobre o amor.
Se neste momento se perguntar a si mesmo se se ama, o que iria responder? Se se perguntar o que ama no Outro com quem vive passionalmente, o que iria responder? Se se perguntar como se sente amado/a, como iria responder?
Certamente cada um de nós terá uma resposta de acordo com as nossas experiências e vivências, tantas vezes malfadadas pelo passado que continua a prender a nossa manifestação de amor, o nosso sentir, a nossa entrega e por isso temos receio de questionar “Porque me amas? Porque o amo? Como está a nossa relação, o nosso amor?”, pois as respostas irão criar um turbilhão de diferentes emoções que irão exigir mudanças para as quais não estamos totalmente preparados, porque nem sequer pensámos nelas.
Falar sobre amor não é fácil por mais que existam milhares de teorias, de conceitos, de filosofias, por mais que seja conceito central da música, da literatura, mas não é sobre esse amor que precisamos falar, mas do amor real, aquele que estamos mesmo a vier e não a imaginar, aquele que está nas nossas casas, no nosso trabalho nas nossas amizades, nos nossos gestos solidários e que está carente de ser conversado, para ser compreendido e reconhecido, de modo a operarmos as mudanças que sejam necessárias para o valorizar e para sermos felizes, em Amor.
É este amor do nosso dia-a-dia que tem que ser conversado, como por exemplo respondendo a esta questão e conversando com alguém sobre a mesma “Eu amo o que faço? Sem ter as condições ideias, sem considerar as questões de sobrevivência, porque amo este trabalho?”, sendo que ao responder e dialogar sobre estas questões iremos conscientemente, reconhecer as mudanças que possam ter que ser feitas na forma como nos entregamos ao nossos trabalho, na procura de um novo rumo onde, de facto, vibremos com o amor por esse caminho, essa escolha.
É este amor do nosso dia-a-dia que tem que ser conversado com os nossos amigos, que tantas vezes assumimos como certos na nossa vida, mas com os quais não falamos, não nutrimos a relação, pois acreditamos que se somos amigos é porque sentimos amor um pelo outro, mas certamente não será o mesmo se não fizermos nada pelo seu crescimento e fortalecimento. Uma das formas de reconhecermos o amor nas nossas relações de amizade é conversar com os nossos amigos sobre o que nos une, manifestando em palavras que gostamos do nosso amigo por determinados motivos, escutando os motivos pelos quais o nosso amigo sente amor por nós.
É este amor do nosso dia-a-dia que vãos vivendo quando participamos em questões de solidariedade, que escolhemos porque nos reconhecemos em amor naquela causa e é mais um motivo para se falar sobre o amor, conversando sobre o porquê daquela causa influenciar as nossas emoções em prol de outras tantas, sobre os motivos que me levam a amar aquele conceito em prol de outro, sendo todas as respostas válidas, assumindo a necessidade e importância de falar sobre o amor.
Hoje, posso vos falar de amor? Com estas palavras quis levar-vos a um processo de reflexão sobre o nobre sentimento que comanda a vida, que nos guia e orienta, mas que está carente de ser conversado, de ser falado, de ser escrito nas suas vivências reais e não romanceadas, no nosso dia-a-dia e nas nossas relações. Por isso mesmo, deixo-vos uma última questão “Estás pronto/a para falar sobre o Amor?”.