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BOTSWANA

Botswana, agosto de 2013, 05:30 da manhã. O sol já raiava, em pleno inverno, no limpo céu africano.

Pela frente, a longa estrada que esventrava o mato, quase sempre em linha recta, durante os mais de 930 quilómetros que separavam Gaborone de Kasane, onde se situava o Parque Nacional de Chobe.

Durante todo aquele percurso, vimos girafas a comer na berma da estrada, aldeias isoladas, pequenas casas redondas com paredes de lama e telhados de colmo, gigantescos baobás, comitivas de elefantes a atravessar a estrada, avestruzes que nos contemplavam no caminho, formigueiros com mais de dois metros de altura, extensões agrícolas a perder de vista e macacos que fugiam dos agricultores com maçarocas de milho nas mãos.

Extenuados, parámos já próximos do nosso destino. Precisávamos de lenha, para assar um delicioso T-bone, e dirigimo-nos a uma banca onde uma autóctone vendia alguns molhos de lenha por apenas 5 pulas, que o nosso guia, prontamente, pagou.

Uma criança, descalça, com não mais de 3 anos, recolhia do chão pequenos galhos para entregar a sua mãe que, depois de envolvê-los num pedaço de arame ferrugento, os vendia.

A noite já ia funda, o sono não adormecia em mim e, embalado pelo riso cínico das hineas, peguei no telemóvel, abri o conversor de moeda e percebi que tínhamos pago apenas quarenta cêntimos por aquele pedaço de riqueza através do qual assámos um bom naco de carne e nos aquecemos em pleno inverno.

Eu, um mero cidadão europeu da classe média, de um país em recessão económica, senti-me um asqueroso burguês.

Naquela noite, como em tantos dias e em outras tantas noites, alimentei-me e aqueci-me sustentado pelo trabalho e pela pobreza de uma criança.

Não que não o faça todos os dias mas, daquela vez, vi-o com os meus olhos.

Ainda hoje, sempre que a imagem de uma criança na minha mente se desenha, vem-me à memória a imagem do menino pobre que colhia lenha.

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