Não é novidade para ninguém que o paradigma educacional das últimas décadas vai no sentido de “facilitar” em toda a linha a vida aos estudantes, encarados cada vez mais como entes incapazes de trabalhar, de estudar, de raciocinar, de fazer esforço. Estão-se a menorizar claramente os adolescentes e os jovens, que já não podem fazer exames, que têm dificuldade em encarar as avaliações, que não conseguem superar, genericamente, o que exija energia, força mental, determinação, persistência, resiliência.
O que de resto, vem na linha do ambiente criado nos anos mais recentes pela multiplicação das redes sociais, fáceis e cómodas de usar, em qualquer momento e em qualquer lugar.
As redes sociais substituem a leitura, que exige esforço, paciência e concentração, enquanto aquelas vivem à base da imagem e de textos sumariados, o que simplifica as coisas, que é o que se pretende.
Por um lado, facilita-se ao máximo a vida dos estudantes, exigindo-se cada vez menos, nas várias disciplinas e depois passa a vida a pregar-se aos mesmos estudantes que é necessário estarem bem preparados e apetrechados para trunfarem no futuro.
Claramente, a previsível falência dos homens no dia de amanhã tem a ver com a falta de exigência das gerações actuais, que tratam os jovens como diminuídos, mentecaptos, despossuídos de faculdades intelectuais ao mais alto nível, o que não corresponde minimamente à realidade.
A meio desta semana, ficou a saber-se que, na linha do triunfo do facilitismo, as obras de Eça de Queirós Os Maias e A Ilustre Casa de Ramires vão deixar de ser de leitura obrigatória no ensino secundário. É esta a proposta contida nas chamadas aprendizagens essenciais para a disciplina de Português do 10.º, 11.º e 12.º ano.
Em sua substituição, lê-se um resumo ou um livro de contos…
Já tinham desaparecido dos programas obras fundamentais de literatura portuguesa, de Almeida Garrett, Alexandre Herculano ou Camilo Castelo Branco.
A tendência é para alegadamente “diversificar” a oferta e por os alunos a lerem e analisarem notícias de jornal ou de revista, o que não deixa de dar uma ideia da idiotia que grassa por aí, seguramente correspondente à escassez de formação humanística de quem manda nestas matérias.
Não há tempo para se dar o programa, por muito extenso, logo, corta-se no que é essencial. Fantástico!!!
Na poesia, em vez de uma obra de Pessoa, Antero de Quental ou de Cesário, escolhem-se dois ou três poemas. E assim se formam os professores de amanhã e os cidadãos do futuro, que dizem querer culto, informado, consciente!
Soberbo!!!
O mesmo se passa na disciplina de História, em que, por exemplo, desaparece a herança muçulmana na Península Ibérica.
Como refere o Público de quarta-feira, “por exemplo, no 10.º ano desaparece o conceito de direitos humanos, que era até aqui abordado no módulo da “abertura europeia ao mundo” nos séculos XV e XVI onde se propunha, entre outros temas o do encontro de culturas e as dificuldades de aceitação da unidade do género humano”. Também no 10.º ano, no que respeita ao período da Idade Média, “eliminou-se toda a dimensão cultural (arte gótica, religiosidade, ordens mendicantes e confrarias, escolas, universidades…)”, apesar de posteriormente se propor aos alunos que problematizem a produção artística em Portugal, partindo do gótico-manuelino.
E assim, de facilitismo em facilitismo, se formam as gerações futuras!…
E depois ficamos com a nostalgia das gerações que construíram o país, as que fizeram os Descobrimentos, as que espalharam Portugal pelo Mundo, seguramente com sacrifícios, trabalho e muito suor, o que às gerações actuais está terminantemente proibido, segundo os governantes das pastas educativas!…