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Cidadania e Sociedade

A MISÉRIA HUMANA

Percorrendo as ruas e as esquinas do Facebook, as avenidas, as ruelas indecifráveis atulhadas de lixo mental, ou os belos decotes pendurados nas cordas da roupa sob as varandas dos perfis, fui desembocar num vídeo aterrador. Estava publicado na página de uma amiga jornalista e escritora. Ela alertava para o conteúdo violento e dizia que só o partilhava para tentar acordar algumas consciências.

A imagem estática do vídeo também chamava a atenção para o conteúdo.

África, meia dúzia de mastronços com fardas ridículas empunhando metralhadoras, empurravam e batiam em mulheres que levavam filhos pequenos pela mão e outras que os tendo bebés os levavam às costas. Elas, tristes, negras por dentro e por fora, tão negras como os mastronços que acusam os brancos de racismo e não defendem os seus, seguiam mudas, descalças pelo caminho poeirento.

Confesso que estava expectante, e quis acreditar que se trataria de violência física e de humilhação, apesar de por si só já ser grave. Os mastronços puseram-nas de joelhos, vendaram-lhes os olhos, uma a uma, e aquilo que eu não queria imaginar que fosse acontecer toldou-me a vista. Várias rajadas de metralhadoras sobre elas, tombando no chão sagrado da vida, os filhos traçados pelas balas, dormindo nas costas das mães, onde tristemente juntavam os seus sangues que depois escorriam pela terra quente de África.

Dei por mim a destilar revolta. Os senhores do mundo, os senhores das potências, os líderes que enchem as bocas com frases bolorentas de bondade e solidariedade para com os povos de países pobres, não prestam. Uma morte na Europa ou nos EUA tem, incomensuravelmente, um valor muito maior do que nesse profundo mundo miserável das savanas.

Onde estão os deuses que são a capa de perfil dessas religiões que passeiam a imponência em palácios e bordéis dourados? Onde está a ONU que deveria ter a força inabalável de combate impiedoso aos assassinos que deambulam por este planeta? Onde estão os mecenas que dão, aos rodos, dinheiro para instituições de caridade de gestão duvidosa? Muitos deles estão a vender armas para esses mastronços. Aqueles que vemos diariamente nas televisões e que, de uma forma ou de outra, nos obrigam a seguir com admiração ou até inevitabilidade, são aqueles que, de todos os restantes seres da humanidade, se prestam a servir interesses que matam a essa mesma humanidade.

Podem até dizer-me que sempre foi assim. Não discordarei. Mas por que raio tem de continuar assim? Podem responder-me que faz parte da evolução da nossa sociedade e que este misto de beleza e tristeza dramática que nos vai empurrando para frente, será sempre o resultado da soma de todas estas variáveis.

Não pode ser. O respeito pela vida e pelas diferenças são a base da humanidade. Ora, não sendo assim, um futuro digno para a nossa espécie ainda está muito longínquo.

O sangue assim derramado, de mães e filhos, pelo chão silencioso desses confins da civilização, tem de ser lembrado.

Confesso que essa imagem há de perdurar em mim, e escrevo este texto singelo e sem impacto, bem sei, para que meia dúzia de pessoas que o leiam sintam o mesmo que eu. Que aquele sangue inocente sirva para mostrar aos mais jovens que têm pela frente uma missão gigantesca. A edificação da dignidade Humana como pilar central. Conseguida essa bitola, saberemos respeitar tudo o mais que nos rodeia!

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