Foram anos de conversas interrompidas por gargalhadas, com odor a maresia. Do betinho ao mais estouvado, todos os anos tínhamos encontro marcado num parque de campismo, onde cheguei a passar meses, nas férias a que chamávamos “grandes”.
O Parque de Campismo era igualmente “grande”. Superlotado por caravanas e tendas, que não emprestavam espaço à privacidade. E era assim que se queria. O amigo, mesmo ali ao lado.
Terminadas as refeições, iniciava-se a romaria em jeito de “apita o combóio”. Por cada tenda, mais um conviva. O destino ía variando entre o café, para comer um gelado, a praia, o parque infantil, uma qualquer tenda (onde se jogava, quase sempre, uma cartada), ou o famosíssimo Fogo de Campo, anfiteatro ao ar livre.
Nunca me preocupei em ficar na Costa de Caparica, sabendo que muitos dos meus amigos íam de férias para o Algarve. Pobres mas felizes. Corrijo, ricos e felizes. Ninguém pode empobrecer em meses de folia, convívio e tragos de maresia. Ninguém empobrece quando recebe a possibilidade de ser – realmente – criança.
Mas, mudam-se os tempos… vamos para o Algarve, Sul de Espanha e, com algum esforço, para mais longe. Enfiamo-nos em hóteis. Saímos do quarto para o restaurante, piscina ou para a praia. Promove-se a privacidade, castra-se a possibilidade de fazer amigos. As crianças, que não conhecem outra realidade, gostam. Mas só gostam. Crescem sem que lhes seja dado a provar o sabor da verdadeira liberdade.
Desde o ano passado, decidimos voltar a fazer as chamadas férias de pobre. Rumámos a um parque de campismo onde estivémos há quinze anos. Um parque no Minho, desafogado, isolado, com todas as comodidades possíveis num parque de campismo.
Ali, vai o peixeiro de manhã, que é efusivamente anunciado no microfone. E o pão. E até o jornal. Ouve-se o riacho. Observam-se espécies de aves que jamais observaremos na cidade. O dono do parque é uma cara presente e, dias mais tarde, um amigo. Fala-se à nortenho, numa afabilidade pontuada por palavrões. Delicioso. No segundo dia, as crianças já fizeram um grupo de amigos e só os avistamos quando a fome reclama. Ou para pedincharem moedas para uma guloseima.
Saímos da tenda de manhã. O fecho da porta, fabricada em poliéster, remete-me imediatamente para a minha infância. Inspiramos fundo, tomamos o pequeno almoço ao ar livre.
Os dias sucedem-se, todos iguais, todos diferentes. Entre as leituras na cama de rede, as visitas turísticas e a piscina, o consenso afigura-se difícil. Mas é muito fácil ser feliz ali. Ninguém tem aquela vontade de regressar que frenquentemente nos assalta em ausências mais longas.
Mas regressamos e prometemos voltar. Porque as crianças são felizes quando lhes damos liberdade. Quando se esfolam a jogar à bola, quando fazem um grupo de amigos, quando nos obrigam a prometer que voltamos nos anos seguintes.
Hotel ou férias de pobre? Unânimemente, Parque de Campismo!