As redes sociais, como se sabe, têm vários efeitos e consequências quer positivas que menos positivas na vida de todos aqueles que nelas se movem, utilizando as mesmas como uma trincheira de onde lançam farpas aguçadas, balas e flechas, atacando tudo e todos, com o seu maldizer, com as suas palavras que em nada acrescentam ou dão sentido a um dado problema, que servem apenas para incendiar os comentários, as reações, criando bolas de neve que afetam tantas pessoas, em especial aquelas que não têm a mínima noção de como se defender desses ataques ou tão-somente impedir-se de irem na onda.
Todos os dias assistimos a festivais de maldizer com comentadores de bancada que se recusam a alimentar o seu conhecimento sobre determinada matéria para que então possam construir uma crítica construtiva, baseada em fatos verídicos e não em palavras de alguém que reclama por tudo e por nada e que incentiva todas as outras pessoas a seguir a sua onda e inicia-se um processo de destilação de emoções, de pensamentos e palavras que, que muitas vezes, não têm qualquer nexo, não fazem sentido e rapidamente trespassam a barreira do civismo, da educação.
Já lemos, imensas vezes, as partilhas de revolta sobre determinados assuntos onde se aponta, sem qualquer pudor, o dedo a tudo e a todos, como se nada estivesse certo, como se fossem todos uma cambada de ignóbeis que andam por andar, fazem por fazer, agem por agir, destituindo todo e qualquer mérito pelo seu conhecimento, pelas boas e rápidas ações e decisões e, quando as noticias não surgem devidamente documentadas, surge um rasgo de criatividade e criam-se “notícias” que não passam de boatos, rumores, de puro maldizer que interferem com todos aqueles que não possuem qualquer tipo de filtro e começam a vender a “notícia” como algo verdadeiro.
Sim há muitas situações que precisam ser denunciadas, revoltas em que faz todo o sentido serem tornadas públicas, porém uma questão é a denúncia com argumentação, onde a pessoa se preocupou em conhecer todos os fatos de determinado assunto, sem se deixar levar na onda do sensacionalismo quer privado quer dos meios de comunicação social, que apenas querem vender as suas publicações, querem inflamar a revolta de um povo, já por si descontente por motivos bem reais, sem apresentar uma única solução.
Surge então uma nova “profissão” ainda não renumerada (em alguns casos, pois há muitos comentadores a serem pagos apenas pelo seu maldizer sem qualquer base de argumentação), que são os comentadores de bancada que estando no sossego da sua casa começam a destilar as suas raivas, angústias, os seus medos, os seus sonhos não realizados, as suas frustrações, em nome de tudo o que acontece e que se vai passando ao seu redor. Tornam-se, deste modo, peritos em desporto, política, proteção civil, saúde, tecnologias, empresas, entre outros tantos campos e assuntos sobre os quais comentam sem filtrar o que dizem, sem se preocuparem com as consequências das suas palavras.
É o constante maldizer, apenas porque sim, porque apetece, porque não há mais nada para fazer do que se refugiar atrás do ecrã do seu computador ou telemóvel e começar a comentar todas as notícias que surgem, sejam elas quais forem e onde, infelizmente são propagados e inflamados discursos que incentivam ao ódio, xenofobia, homofobia, entre tantos outros preconceitos que vão ganhando força em vez do civismo, da educação, com as quais podemos comentar e partilhar a nossa revolta, sem que a mesma perca a sua importância.
Estas questões têm proporcionado alguma reflexão da minha parte quando me deparo com essas notícias e com os comentários maledicentes, que quando são contrapostos escalam para violência verbal e emocional sem medidas, passando inclusive para casos de bullying, onde as pessoas são completamente assediadas com violência por terem ideias contrárias às que foram expostas pela pessoa, que se torna o agressor. É este um dos perigos do constante maldizer: afetar as pessoas que estão na mesma rede social, que têm direito à sua opinião, mas que são atacadas sem dó nem piedade, apenas porque pensam de forma diferente.
No entanto, apesar desta crónica se referir ao maldizer, é importante realçar que existem muitas pessoas que optam por estratégias de comunicação muito diferentes, informando-se antes de comentar, apresentando fatos e soluções para o assunto em debate e que, na verdade, se preocupam também em partilhar notícias positivas, medidas que devem ser aplaudidas, que devem ser publicadas e partilhadas para equilibrar a forma como comunicamos e expressamos as nossas emoções relativamente a alguns assuntos que são de todos nós e interferem com a nossa vida.
Há um constante maldizer em todo o lado, mesmo na “vida real” onde se fala por falar, se aponta o dedo e se critica, onde as pessoas se atacam uma às outras, violando a privacidade de cada pessoa, por um desrespeito pela forma como a pessoa é, sente e vive e é grave e preocupante vivermos numa sociedade onde o comentar a vida do outro se torna mais importante que a sua própria vida, onde apontar o dedo acusador a tudo e todos, se torna mais viável do que apresentar soluções e tão-somente, pelo maldizer, porque sim.