Como é do conhecimento de todos, com a entrada em vigor a Lei n.º 37/2007, que proíbe os fumadores de poderem fazê-lo em locais públicos, as rotinas de pessoas e empresas mudaram substancialmente.
Embora seja inegável que tal proibição seja fundamental na luta contra os efeitos nocivos que o tabaco acarreta para a saúde, sabe-se de antemão que há quem procure refutar a razão da ciência.
Assim, ao invés de emitir apenas mais uma opinião, reproduzindo todos os malefícios individuais e colectivos do tabaco, procurarei deixar uma palavra de incentivo para que os próprios fumadores queiram, voluntariamente, mudar os hábitos enraizados.
Afinal, resultam da referida proibição muitas vantagens que não são devidamente valorizadas, senão vejamos:
– Ao fumarem na rua poderão atirar as beatas para as pedras da calçada ao invés de usarem o cinzeiro, fazendo apostas sobre quem as consegue lançar mais longe, recorrendo à técnica do lançamento do berlinde, que resulta da conjugação do polegar com o dedo médio.
– Os fumadores podem deixar a beata a arder no chão durante intermináveis minutos sem que tenham de preocupar-se com ridículas questões ambientais como a camada do ozono.
– Com esta atitude altruísta os fumadores permitem ainda que os “agarrados”, sem posses económicas, possam fornecer-se de algo para fumar nos cemitérios de beatas que agora grassam na entrada dos mais variados estabelecimentos.
– As beatas fomentarão, ainda, o emprego dos varredores, pelo que estarão a contribuir para a redução de inscritos no IEFP e ajudarão a nivelar as fissuras entre as pedras da calçada para que as “madames” não enterrem nas mesmas os seus delicados saltos de agulha.
– Esta lei possibilita também que se livrem do constrangedor e ridículo cinzeiro que, de quinze em quinze dias, tinha de ser despejado. No entanto, e no que a cinzeiros respeita, podem continuar a usufruir do prazer de despejá-los pela janela dos vossos carros, assim como as beatas ainda incandescentes, já a lei não tem poder sobre o que se passa dentro das vossas viaturas.
– O facto de poderem fumar na rua permite-vos, também, queimarem algum tempo do patrão, reduzindo, de modo real, as oito fatídicas horas que deveriam ser passadas a produzir. No inverno, este tempo pode triplicar, atendendo que terão de vestir três casacos para que possam sobreviver ao ar gélido que se faz sentir nas ruas e, como todos sabemos, é sempre longo o tempo necessário para vestir e despir casacos.
– Os diálogos de corte e costura acerca dos colegas que permanecem no interior da vossa empresa poderão também aumentar exponencialmente, elevando o nível e a complexidade das intrigas, como é apanágio de qualquer organização que se preze e de qualquer trabalhador dedicado.
– Por último, dirijo uma palavra ao patronato já que as empresas devem pensar em aumentar a zona de copa para que os não fumadores possam criticar, difamar, acusar e injuriar, abertamente, todos os colegas que se desloquem à rua para satisfazer o vício.
Como se vê, não são apenas os não fumadores os beneficiados com a referida lei pelo que é injusto que os fumadores acusem de discriminação os legisladores, já que os benefícios desta são equitativos para ambos os lados.
(Caros leitores fumadores, a presente reflexão não tem o desiderato de fazer qualquer juízo de valor, nem de criticar o acto de fumar, mas sim de levar os fumadores a pensarem e a mudarem alguns comportamentos associados ao acto de fumar e que podem ser corrigidos sem que isso afecte a vossa liberdade e direito a fumar).