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PIQUENIQUE EM FAMÍLIA

Há poucos dias fui convidada por uma amiga para participar num piquenique junto da sua família.

Integrar uma atividade ao ar livre, repleta de comida e dois dedos de conversa, pareceu-me uma boa decisão de início de verão.

Chegada a hora marcada, fiz-me pontualmente presente no local acordado, ainda que os bocejos dessem conta de mim.

O horário laboral continua a imprimir um impreterível despertar às seis da manhã, agora seguido de um preguiçoso levantar.

Radiante, buzinou ao longe mal me viu e acenou colocando a mão por fora do vidro.

Retribuí o gesto com um enorme sorriso, afinal de contas estava por começar uma aventura ao sabor quente de um dia que se previa de intensa harmonia.

– Miúda, vamos embora! – gritou entusiasmada.

De imediato, saltei para dentro do carro e pousei a mochila no colo.

– Onde estão todos? – questionei intrigada.

– Foram andando para organizar as coisas! – disse com uma cúmplice piscadela de olho.

– Levo aqui o bolo. Espero que chegue inteiro. – duvidei de olhos arregalados.

– Não te preocupes com isso. Houve quem estivesse a fritar rissóis toda a noite. – devolveu o olhar.

– Rissóis! Não como rissóis deste que supostamente entrei de dieta em julho… do ano passado! – tentei convencer-me a mim mesma desta tão ambicionada ilusão, porém, sem efeito.

A gargalhada foi geral e bem audível.

Seguimos descontraídas falando sobre um pouco de tudo e nada: trabalho, férias tão aguardadas, trabalho, planos para as próximas semanas, trabalho, desejos de consumo em algodão tecidos, trabalho e por fim o piquenique.

Ah! O piquenique…

Nada me poderia preparar para o que estava por vir.

À chegada, fomos logo rececionadas por crianças a correr de um lado para o outro com as bocas sujas de chocolate e balões de água nas mãos.

Os meus pés tomaram banho logo ali!

Isso mesmo!

Aqueles “priminhos” marotos, momentaneamente emprestados, deram a conhecer toda a sua irreverência.

Que seria dos adultos sem crianças alegres e livres a correr a toda a velocidade sem destino nenhum?!

Um a um, cumprimentei todos os presentes que me saudaram com agrado.

Gente simpática e afável que amavelmente me quis alimentar para o resto do ano.

Declinados alguns dos recipientes estendidos, onde olhos brilhantes e gulosos repousavam a gula, foi tempo de caminhar pelo espaço.

Eis, então, que reparei melhor naquela figura!

Sentado no chão, à sombra de uma das árvores e por cima de uma manta garrida, estava um homem de uma certa idade, o avô.

Tinha uma cara muito redonda e uma careca que reluzia ao sabor das pequenas gotinhas de calor.

Usava umas meias turcas de cor branca, as famosas meias de raquetes, e uns chinelos de dedo.

Aproximei-me, curiosa sobre a razão de ser de tal peça de vestuário onde não repousava a vista faz já muito tempo.

Reparou, evidentemente, na minha expressão facial e depressa fez saber que aquelas meias eram muito importantes para si.

Tem muitas que costuma comprar nas feiras. Algumas coloridas. Outras descosidas.

Segundo mencionou, calça-as indiscriminadamente a toda a hora pois revelou sentir frio nos membros inferiores sendo esta uma forma de proporcionar também algum conforto aos seus joanetes.

Confidenciou-me que outrora trabalhara como jardineiro.

Adorava flores e sabia muitos dos seus nomes, alguns dos quais, desconhecidos para o comum dos mortais.

Agora já pouco remexe a terra pois não consegue permanecer de pé durante o tempo necessário sendo o esforço demasiado intenso para si.

Mas do que não gostava mesmo nada era de catos!

Referiu que os catos são plantas muito peculiares que só se dão em ambientes hostis e secos onde impera a luta pela sobrevivência.

Detentor de tão avançada idade, prefere a doçura de uma camélia.

– Sabe, menina, as camélias vermelhas significam reconhecimento, as camélias cor-de-rosa simbolizam grandeza de alma e as camélias brancas são uma alusão à beleza perfeita. Não gosto da frieza com que os espinhos dos catos nos mantêm à distância ou nos magoam quando deles, por distração, nos aproximamos!

E assim fui brindada, numa calorosa e quente tarde de verão, com uma breve lição onde a sabedoria da idade e a experiência de uma vida passada em contacto com a natureza, me elevou, e muito, o espírito!

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