Num dos artigos anteriores intitulado “Quanto tempo dura uma tradição?,” referi em termos teóricos, a minha posição e oposição às denominadas corridas de touros, vulgo touradas. Num país tendencialmente democrático, a liberdade de expressão é um direito de cada cidadão. No seguimento “prático” deste assunto, tive mais uma vez, a oportunidade e o prazer de participar numa manifestação pacífica contra as touradas, enquanto decorria a última na Póvoa de Varzim. A manifestação estava legalmente autorizada e foi simpaticamente acompanhada pelas forças de segurança, com quem travei interessantes conversas.
Sendo uma manifestação pacífica, as “palavras de ordem” proferidas por todos nós, acompanhados pelo sistema de som, eram focadas principalmente na atividade dos toureiros como promotores do sofrimento animal e das vantagens económicas desta atividade. Jamais se utilizou o insulto gratuito, a provocação física ou qualquer outro tipo de violência. Apenas era verbalizada a nossa opinião sobre o assunto. Pois se de outra forma fosse, eu não estaria presente.
À nossa frente e do outro lado da rua (bastante movimentada) ficava a praça de touros, onde no seu exterior se encontravam alguns dos aficionados (com todo o seu legítimo direito) e por vezes os toureiros quando vinham “passear” e mostrar os seus cavalos.
Muitos dos carros que passavam apitavam manifestando o seu acordo à nossa posição e outros obviamente manifestando o seu desacordo. No entanto uma coisa se constatou. Os manifestantes do outro lado, a favor das touradas, utilizavam gratuitamente o calão (piiiiiiiiiiiiii) de forma persistente, mas felizmente que não tinham sistema sonoro! Acompanhando esse retrato sonoro vinham também os gestos a condizer e muitos deles a incitar à violência física. Obviamente que a presença policial impedia a aproximação de alguns deles ao nosso local.
Não deixa de ser curioso, como uma manifestação pacífica consegue, em alguns elementos da oposição, gerar emoções/sentimentos de raiva, ódio e quase violência!
Sei que noutros locais, em manifestações deste género ocorreram alguns atos de violência e esta, seja de que lado for, será sempre da minha parte condenável, pois a violência gera violência!
Qualquer ato não violento, jamais deveria ser combatido com violência!
Não será possível cada lado colocar as suas “palavras de ordem” de forma ordeira e pacífica?
Não será possível expor uma opinião e não receber insultos e provocações?
Respeitar o outro jamais significa concordar com ele!
A tentação da violência é muito forte! É a forma mais rápida de sobrepor uma vontade alegadamente mais ética pelo método menos ético! A história assim o diz! As guerras assim o comprovam!
A palavra odiar está sempre mais presente (e é tão mais fácil) que Amar. Se a regra de ouro da humanidade, proferida por Confúcio “não faças ou outro o que não queres que te façam a ti” ainda é uma tarefa complicada para todos nós, então a regra do Amor incondicional que nos leva até “ Amar os vossos inimigos” ainda está muito longe da realidade! Mas este é que é o caminho dos corajosos, dos que querem ir mais além! Aceitam-se candidatos!