(Senti o aroma a terra e respirei bem fundo como se estivesse a inalar um qualquer remédio, feito pelo homem, para curar os homens – fundamentalmente deles próprios. E senti-me curada, naquela fracção de tempo, onde o tempo tem um nome diferente…)
Hoje, na hora de saída do trabalho, começou a chover torrencialmente.
Aguardei uns minutos com esperança que a chuva abrandasse e decidi ir, mesmo com chuva.
Reparei na folha que rodopiava, numa dança perfeita e improvisada, até ao chão. E fui. Não havia um guarda-chuva para me lembrar do conforto, ou do comodismo, não cómodo para a alma, de sentir a pele molhar-se, arrepiar-se.
Ressuscitar-se.
Senti o aroma a terra e respirei bem fundo como se estivesse a inalar um qualquer remédio, feito pelo homem, para curar os homens – fundamentalmente deles próprios. E senti-me curada, naquela fracção de tempo, onde o tempo tem um nome diferente: onde tive tempo de sentir a chuva, de ouvir o trovão, onde caminhei calma, enquanto outros corriam precipitados.
Senti-me curada (nem que por segundos) de um presente sem passado, intrínseco, de terra, água, fogo e ar.
E tive a noção, sem filtros, que a natureza é, e sempre será, a melhor curandeira de sempre.
E não haverá futuro que resista a um presente que não respeitou o passado.