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Cultura, Literatura e Filosofia

VIAGEM À COLÔMBIA – I #Bogotá e #Medellín Cidade e Diversidade

MEDELLÍN PARQUE

Visitar a Colômbia sempre me pareceu que estivesse (quase completamente) fora de alcance. Não era porque não tivesse curiosidade ou não tivesse interesse em conhecer, muito pelo contrário: sempre me pareceu um daqueles países que só conhecemos da Literatura e que – por se me revelarem tão mágicos e fascinantes – parecem irreais. Era antes por achar que, de tão longínquo e tão dentro do meu imaginário, dificilmente os caminhos da vida me levariam lá.

Literatura, sim. Imaginário, sim. (Ir)realismo, sim. Mágico, sim.

É impossível falar de Colômbia sem recorrer ao seu vulto maior da Literatura, o Prémio Nobel Gabriel García Márquez. Porque, mesmo que não nos lembrássemos de o fazer, está lá tudo: o colorido, as gentes, o ruído, o ritmo, os vendedores ambulantes (andrajosos), o ambiente, o alarido, a azáfama.

Apesar das dificuldades por que o país tem vindo a passar ao longo dos tempos, o povo colombiano é reconhecido como acolhedor, alegre e optimista, e isso é percetível desde o momento em que ultrapassamos a barreira de segurança do aeroporto mais vigiado do mundo. Se dúvidas houvesse, a partir dos documentários a que tinha assistido no canal National Geographic, ali se desfizeram, porque entrar na Colômbia, através do aeroporto El Dorado, é, de facto, um acto feito através de medidas de segurança apertadas.

Colômbia: uma obra – feliz – do acaso, foi o que lá me conduziu.

Após toda a preparação – pesquisa, estudo, organização, agendamento –, continuava a parecer-me irreal ter à vista aquela que sempre se me afigurou como uma viagem de sonho, e que veio a transformar-se num sonho de viagem para toda a família (marido e filhas).

FAMÍLIA BORGES

Olá, Bogotá!

Um dos passeios mais interessantes a fazer em Bogotá é a subida a Monserrate.

Nós subimos de teleférico e descemos (“bajamos”) de funicular. O terreno é bastante íngreme, mas, depois de iniciar a subida/descida, todos os receios se desvanecem, já que a magnífica paisagem não deixa margem para pensar em mais nada. Como dizem os nossos amigos colombianos: “tranquilo”.

Lá de cima, as visitas são tão vastas e espectaculares que não parecem reais.

O morro de Monserrate é o mais conhecido dos “cerros” de Bogotá, e situa-se junto a Guadalupe sobre a “cordillera oriental de los Andes”.

Olhando para o nosso lado esquerdo, observávamos as antigas favelas, coloridas e alongadas no declive, e para o direito, a parte nova da cidade, espelhada, moderna e em constante evolução.

MEDELLÍN METROCABLE

Foi uma manhã de “vistas a perder de vista”, de cortar a respiração e de nos sentirmos pequeninos, olhando para a dimensão gigantesca da cidade!

São também de visita obrigatória o Museu do Ouro e o Museu da Esmeralda, aquele porque relata a história da Colômbia em diversos momentos, este porque explica a exploração mineralógica da esmeralda colombiana, conhecida como a melhor do mundo (e a mais cara também).

 Mais tarde, fomos passear no mais famoso bairro de Bogotá – La Candelaria. É o bairro colonial onde Bogotá foi fundada e a partir de onde a cidade cresceu. Nas suas ruas, estão os grandes pontos turísticos da cidade, o palácio presidencial, as maiores igrejas e museus. O colorido e a imponência dos edifícios são imperativos. As ruas são super-movimentadas, mas seguras. A afabilidade das pessoas é indescritível, e por toda a parte existe polícia e exército, revelando-se, por sinal, também muito prestáveis aos viandantes.

Com o seu casario colonial preservado, o bairro tornou-se uma atracção, valendo-lhe o título de centro histórico preservado da UNESCO.

Tínhamos chegado à cidade por ocasião da tomada de posse do presidente recém-eleito, Iván Duque. Havia restrições na passagem para a rua onde se situa o palácio presidencial – Casa de Nariño (éramos revistados antes de seguir, havendo também restrição no número de pessoas que podiam circular). Em boa hora decidimos passar por ali, pois acabámos por assistir a um fantástico desfile militar, com trajes e toques à moda antiga.

A cidade respira diversidade cultural a vários níveis. Visitar o Museu Botero é um dos programas imperdíveis em Bogotá, um imenso prazer e um privilégio, artista figurativista colombiano, natural de Medellín, cujo estilo é designado por alguns de “Boterismo”, o que lhe confere uma identidade inconfundível. As suas obras (desenho, pintura e escultura) destacam-se sobretudo por figuras rotundas – OS GORDOS –, a sugerir a ociosidade da humanidade, sendo bem explícita a crítica social no que diz respeito à ganância do ser humano.

O Museu Botero surgiu a partir de uma doação de obras de arte feita pelo próprio artista plástico ao governo do seu país. A colecção é composta por 123 obras da autoria do próprio Botero e outras 85 obras de arte internacional, abarcando o período que vai de meados do século XIX à arte contemporânea, com presença de artistas como Picasso e Miró. É fantástico e uma autêntica dádiva podermos aceder a todo o museu de forma gratuita. Esta é uma grande diferença da América Latina – quase toda a arte é de visita gratuita – em relação à Europa, onde se paga muito caro para visitar museus.

Dias mais tarde, teríamos também o privilégio de podermos apreciar muitas das suas esculturas no Parque Botero, em Medellín, sua cidade natal.

BOGOTA CERRO DE MONSSERRATE

Botero vive hoje entre o Monaco, Nova York, Itália e a sua casa de campo em Antioquia, na Colômbia. As suas obras estão espalhadas por diversas cidades e museus de todo o mundo.

Ali bem perto, visitámos também o Centro Cultural Gabriel García Márquez, com a sua interessante livraria.

Ao final do dia, era sempre muito agradável passear pelas ruas cheias de vendedores, com o caraterístico ruído e cores, passando pelo mercado de artesanato, com os diversos músicos e cantores a espalhar os ritmos da salsa e da rumba pela cidade.

Medellín: a cidade da Primavera Eterna

Devido ao seu clima permanentemente temperado, Medellín é conhecida como a “cidade da primavera eterna”. Um dos momentos altos da cidade é, também por esse motivo, a “Festa das Flores”, que estava a terminar quando lá chegámos, mas pudemos ainda observar um pouco do colorido do desfile.

Nos nossos planos de viagem à Colômbia, tivemos sérias dúvidas se deveríamos ou não incluir a visita à cidade de Medellín. Optámos por ir, e hoje não poderíamos estar mais satisfeitos com a decisão.

Famosa pelos piores motivo – conhecida como a cidade de Pablo Escobar, pelo narcotráfico, a delinquência e a prostituição, Medellín transforma-se, a olhos vistos, numa das cidades urbanisticamente mais evoluídas do mundo, tendo, em 2016, recebido o prémio internacional de cidade mais inovadora do mundo, graças ao seu inteligente projecto urbano. O prémio, considerado o Nobel do urbanismo, reconhece a construção de cidades e comunidades sustentáveis onde as sociedades encontram um ambiente propício para se desenvolverem plenamente.

É assim Medellín: temas como integração, cultura, educação, mobilidade, administração, redução da pobreza e violência são trabalhados num imenso projecto integral. O conceito de Projeto Urbano Integral leva em consideração ferramentas de desenvolvimento social, físico e a coordenação inter-institucional para transformar os sectores da cidade que possuem maiores necessidades.

Um dos exemplos mais inovadores do projecto é o “Metrocable”, um sistema de transportes públicos que estende a mobilidade aos sectores menos favorecidos, trazendo as pessoas das favelas à cidade, através de três modalidades de transporte – o metro, o bus e o teleférico: o inovador sistema não só proporciona acessibilidade a vários lugares, como também as próprias estações se convertem em zonas intermodais, com projectos de espaços culturais para os bairros em questão – desde parques, praças, jardins, escolas, bibliotecas, museus… Estes mega-projectos, assinados por nomes consagrados da Arquitectura mundial, estão sabiamente espalhados pela cidade.

Subimos às favelas no Metrocable, tendo sido feito um trajecto de metro e o restante de teleférico. É uma actividade verdadeiramente impressionante de se fazer. Muitos poderão até questionar o porquê de o termos feito. Mas, hoje, voltaríamos a fazê-lo, pois só assim temos noção da importância desta cidade tão inovadora, que tanto nos ensinou; só assim entendemos o verdadeiro impacto. Assim, tivemos a oportunidade de contactar e falar com alguns habitantes, recolhendo impressões, “in loco” e “em pessoa”, acerca do impacto do projecto urbano – que, acreditem, é imenso e inigualável.

Grande parte da população de Medellín é formada por paisas, um grupo étnico que surgiu da mistura de judeus espanhóis e bascos, além de indígenas. Os habitantes de Medellín são bairristas (eles auto-denominam-se “regionalistas”), demonstrando grande orgulho nas suas origens e na sua cidade, são divertidos e muito acolhedores.

Oportunamente, numa outra crónica, falarei um pouco mais acerca da gastronomia, mas quero aqui abrir um espaço para dar a conhecer um projecto colombiano de se tirar o chapéu. Na nossa primeira noite em Medellín, como não queríamos perder muito tempo a procurar um restaurante, decidimos ir jantar a uma CREPES & WAFFLES e depois, então, sair um pouco para a noite colombiana.

A Crepes & Waffles é uma cadeia de restaurantes fundada em 1980, na Colômbia, por um casal de estudantes, Beatriz Fernández e Eduardo Macías, que se tornou um ícone nacional.

A história, conceito e filosofia da CREPES & WAFFLES é, sobretudo, uma lição de como pensar um negócio mais pelo lado humano que dos números, já que tem como política empregar pessoas, neste caso mulheres, que costumam ser rejeitadas na maioria dos empregos – acima de tudo, mulheres maltratadas, vítimas de violência, abandono escolar e familiar, mães solteiras…

A cozinha associa a gastronomia sul americana aos crepes e às waffles, tornando os pratos “mui ricos” e agradáveis à vista e ao paladar

Este é um conceito que eu gostaria muito de ver replicado em Portugal, e que acredito não demorar muito tempo, visto já existir na vizinha Espanha.

A cidade da “Primavera Eterna” tudo faz para apostar fortemente na Educação e na Cultura, aproximando as pessoas da cidade através do seu afamado projecto urbanístico.

Exemplos disso são o Parque Botero, o Parque das Luzes, o Museu de Arte Moderna, as estações Metrocable e as muitas bibliotecas espalhadas pela cidade. As muitas praças constituem uma das iniciativas que permitem estimular o uso dos espaços públicos.

O Parque das Luzes ilumina-se por volta das 18:00h. Fica ali, mesmo junto à Biblioteca Municipal, um dos muitos espaços de eleição espalhados pela cidade, constituindo um conjunto arquitectónico de grande interesse. Momento lindo de se ver, gradualmente, o parque ilumina os 300 bastões e os mais de dois mil reflectores e lâmpadas no chão. “Mui belo”!

As noites de Medellín são muito coloridas e cheias de ritmo – salsa, rumba, mambo, bolero, merengue, cumbia, bachata… A “movida” é irresistível. Sair à noite é garantia de boa “vibe”, distracção e boa disposição.

Se no passado a cidade de Medellín se viu nas ruas da amargura pelos piores motivos, mormente pela violência, hoje a região de Antioquia é mais rica por ter Medellín a seus pés!

“Nos quedaríamos”, sem dúvida, mais tempo na cidade.

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