Sem que alguém se tenha apercebido, terá havido uma retumbante demonstração de um fenómeno chamado negacionismo no fim-de-semana passada. A alegada conferência realizou-se na Universidade do Porto, em que terá sido defendido (digo terá, porque não ouvi mais nada, nem sei se a tal demonstração se terá realizado…) que as alterações climáticas não são fruto da intervenção humana mas resultado de transformações radicais do Sol.
O alienado Trump não conseguiria ser mais iluminado e persuasivo, tão eloquentes são as suas “bacoradas” pertinazes e firmes, quando se mete a falar do que nada sabe.
O certo é que o facto motivou uma carta aberta ao reitor daquele estabelecimento de ensino, em que um conjunto de cientistas a sério alertava para a ausência de “qualquer base científica” para aquelas posições.
E não é necessário ser cientista para saber que o mundo de hoje é drasticamente influenciado pelas alterações climáticas, chovendo em Agosto e queimando em Fevereiro, e que a acção humana é fundamental nessas alterações. O Sol já existe há milhões de anos mas só nas últimas décadas, exactamente por efeito da acção nefasta do homem, o clima tem sido sujeito a alterações que influem directamente na vida de todo o planeta e condicionam decisivamente a vida humana e a própria natureza.
Não é o Sol que provoca a poluição das cidades nevoentas e dramáticas da China, nem é responsável pela contaminação do ar dos aglomerados industriais, um pouco pelo mundo além…
Ninguém de bom senso, a não ser os abencerragens antes referidos, tem a menor dúvida de que as alterações climáticas são maioritariamente obra e graça da loucura humana, rumo ao seu suicídio ambiental, como têm sublinhado os especialistas e ainda por estes dias reiterou o Secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres.
Contestar estas verdades de Lineu, tem muito pouco de científico, ainda que sublinhado por uns extravagantes personagens, mas muito de propagandismo da banha da cobra, como refere quem tem da ciência a seriedade, o rigor e a competência…
Negar a acção humana nas alterações climáticas, tem o mesmo nível científico e de credibilidade que os que advogam que a Terra é plana, ou que o Sol é que gira em torno da Terra, ou que o Holocausto foi uma mentira e uma invenção, ou que o homem nunca pôs o pé na Lua. A ciência e a investigação já há muito que estabeleceram os cânones que não merecem qualquer contestação.
Contestar aquelas evidências é enveredar por um retrocesso civilizacional, de todo lamentável e inadmissível no século XXI.
Lamenta-se é que seja uma Universidade como a do Porto (mas poderia obviamente ser outra), centro do saber e guardiã da ciência e da investigação, a legitimar a burla, o logro e a sem vergonhice, que nada têm de científico!