Hesito entre o choro e o riso ao deparar-me com as lágrimas da minha filha. O irmão esmagou uma mosca no caderno de educação para a cidadania, o que a fez rebelar-se – de lágrimas nos olhos e bochechas rosadas – como se tivesse a sua própria vida findado, e não a da pobre mosca.
Acabados de chegar de uma batalha, cuja vitória se festeja em júbilo logo que se encontra um caderno pautado – seja ele de que cor for, porque o stock está praticamente a zeros – as emoções estão ao rubro, nada fora do contexto do que se vai observando nos hipermercados. Há crianças agitadas, prateleiras vazias, pais esgotados. São as sapatilhas de educação física que deixaram de servir, a escolha caprichosa do material, as canetas de todas as cores e feitios – para escrever, sublinhar, marcar, pintar- o estojo novos com três divisórias, porque o do ano anterior só tem duas. Faz parte do prazer de iniciar um novo ano letivo, ter tudo novinho. E nós pais, embalados pela nostalgia dos nossos anos de estudantes, vamos cedendo.
Ao invés de rejuvenescermos em sintonia com todo o aparato que exala novidade, envelhecemos dez anos em dois dias, numa correria desenfreada entre o trabalho, as reuniões na escola, a compra dos materiais e, para tantos de nós, as filas intermináveis para trocar os benditos vouchers por manuais.
As pernas já pesam toneladas, a cabeça outro tanto. Somos olheiras com pés que se arrastam, ansiando – na melhor das hipóteses – que cheguem as 23 horas para espraiar o corpo onde nos aprouver. Mas não, caros pais… ainda há material e livros para etiquetar, cadernetas para preencher, mochilas para preparar, lanches para pensar, almoços para marcar, e tudo isto com um gostinho de algo que se faz pela primeira vez. Não é a primeira vez, mas continua a ser caótico.
Por isto, sejamos empáticos e compreensivos com os colegas mal humorados, que nos abordam de forma brusca e com ramelas nos olhos… o caos toca a todos. Sejamos sempre solidários neste momento de grande aflição. Até ao próximo ano letivo!