Aos lábios vieste morrer-me entrelaçando aquela parte especial delicada que repuxavas com os dentes numa sensualidade sem limite ou comparação. Como se limite ou comparação houvesse e existisse connosco, mas enfim…
Depois vieste morrer-me e deixaste para trás esse repuxar para o substituir pela colagem aos meus lábios e depois ao meu corpo e depois à minha pele e a toda a paixão louca com que nos viajamos até morrermos.
Novamente.
Há lugar para estacionar?
E para aterrar?
Posso colocar o meu corpo dentro do teu até morrer no que dizem ser apenas orgasmo?
Hoje está frio e só procuro ignorar a etiqueta de papel presa ao meu dedo do pé. O pé daquele corpo que te morria de prazer.
Repuxei a memória sem perceber como é que ainda tinha essa mesma memória e aquela morte de nós.
Os teus olhos um dia escreveram-me.
Era uma carta com todo o desejo por mim. O meu coração respondeu-te enquanto sonhavas. Para não te acordar deixei tudo em letras aconchegadas.
Lês depois. Quando tirarem a etiqueta e me taparem de terra.
Como serão as almofadas dos cobertores de terra?
Morro-me por saber…
……….
Poema selecionado para estar presente na Antologia Poética de Poesia Contemporânea “Entre o Sono e o Sonho”, Vol. VIII, pela Chiado Editora (apresentada o ano passado) e incluído no meu último livro “Não Faças Barulho. Fui Ali Gritar Que Te Amava” (Emporium Editora).