Desde que me lembro sempre fui “caixa de óculos”. Inclusive uma das pessoas que eu mais admiro no mundo trabalha neste setor e depois de duas operações aos olhos e de muita ortóptica e alguns milhares de euros gastos em óculos resolvi investigar um pouco sobre um setor de atividade em crescimento na economia portuguesa e procurar saber o porquê da proliferação de óticas por todo o lado.
De facto, o negócio está a crescer a “olhos vistos”, quase nos dois dígitos, motivado pelo crescimento económico e pelo aumento do turismo em Portugal, mas também pelo envelhecimento da população (a partir dos 40 anos a perda de flexibilidade do nervo ótico obriga a correções) e a fadiga visual provocada pelo uso de dispositivos digitais. Em termos de mercado, o retalho ótico é um dos mais concorrenciados na Europa. No ano passado, em Portugal, erro ao quarto em trinta com maior presença desta atividade, havia 2.22 estabelecimentos por cada 10 mil habitantes, à frente da Espanha que tem 2.1 além de ser um mercado avaliado em 2018 de 831 milhões de euros.
A “lente” amplificadora do negócio em Portugal continua a ser o franchising das marcas. Se você quiser ter um negócio deste género deverá ter uma loja entre os 70 e os 100 metros quadrados e um investimento de 70 mil a 90 mil euros para equipamentos, decoração e stock inicial. Muitos destes franchisings surgem do interesse em abrir um negócio próprio por parte dos colaboradores, gerentes de loja ou optometristas que têm as competências técnicas e humanas para um negócio deste setor.
Os royalties exigidos rondam os 7% da faturação mensal mas não costuma haver um pagamento de entrada. Algumas empresas cobram ainda um fee de publicidade para que se faça uma estratégia de marketing concertada a nível nacional.
Mas, como se trata de um mercado muito concorrenciado, podem vir a acontecer algumas fusões e aquisições de forma a diminuir a concorrência.
O crescimento do setor levou a uma consequência que é a falta de mão-de-obra especializada, nomeadamente, de optometristas. As universidades portuguesas como a Beira Interior e Minho colocam no mercado 70 profissionais, insuficiente para tanta oferta já que muitas lojas têm três e quatro optometristas por estabelecimento. Por isso na procura de pessoal especializado as empresas veem-se forçadas a acenar com melhores salários e incentivos à formação que agarrem os melhores profissionais.
Há dois anos a Sociedade Portuguesa de Oftalmologia estimava que 5,2 milhões de portugueses terão de usar óculos. Os próximos anos serão também de inovação e uma maior penetração de tecnologia de ponta como lentes de contacto inteligentes que permitam, por exemplo, aceder a informação digital ao género dos filmes de espiões.
Espero ter contribuído para terem uma melhor “visão” sobre o modelo de negócio das óticas.
Para a Célia