Cultura, Literatura e Filosofia

BRANQUINHA

  Psittacidae é o nome que se dá a uma família de aves pertencente à ordem Psitaciformes.

Poderia ser um cão ou um gato ou qualquer outro bicharoco…

Mas não era!

De seu nome Branquinha, este animal de companhia, era um periquito fêmea.

Apresentava uma plumagem maioritariamente branca sempre bem cuidada e sedosa.

A sua vaidade impeliam-na a mostrar de peito elevado uma penugem azul céu em harmonioso contraste com manchas levemente cinzentas por todo o corpo.

Foi morar com quem a acolheu ainda bebé tendo sido domesticada com muito treino, paciência, esperança e afinco.

Ao fim de algum tempo aprendeu também a pronunciar o seu próprio nome para delícia de quem consigo confraternizava.

Habitava uma enorme moradia e ocupava todo o espaço.

Tinha o seu quarto vulgo gaiola onde a porta aberta era uma constante.

Estava habituada a ser livre dentro da sua casa, fora das suas grades.

O amor pelos pássaros desde cedo floresceu no coração da sua dona.

Branquinha adorava devorar sementes, ver televisão ou apreciar no ombro seguro da sua cuidadora o livro que esta estivesse a ler no momento.

As bonitas penas que a envolviam deixavam adivinhar um corpo saudável e uma personalidade teimosa.

Parecia estar sempre pronta para mais uma aventura doméstica ou algum elogio vindo de alguma daquelas pessoas que, de visita, ali apareciam e com curiosidade a cumprimentavam.

Não dava confiança a estranhos mas era afável quando com ternura e esmero a conquistavam.

Branquinha era feliz.

Profundamente!

Por vezes, parecia sorrir.

Ou, pelo menos, assim a viam.

Era amistosa.

Aproximava-se frequentemente do rosto de quem tão bem conhecia, encostava o seu bico àquela bochecha rosada e ali depositava um arrulho em forma de beijo apaixonado.

E assim foi a sua vida durante sete longos e maravilhosos anos.

Quis o destino que o início do outono marcasse a sua partida deste mundo.

Nesse dia, ainda de intenso calor, o seu pequeno ser sucumbiu e ficou inerte no chão do compartimento onde protegida desde sempre usufruíra do seu conforto.

E porque é quando nos sentimos mais fracos que nos tornamos mais fortes que aquela mão que outrora a alimentara, lavada em lágrimas, a segurou junto a si pela última vez e a transportou para o jardim da vila.

Enchendo-se de coragem ajoelhou-se na terra seca.

A mão abriu um pequeno buraco e aí depositou a pequena ave sempre vestida com a sua melhor e mais bela indumentária.

De olhos selados pela sincronia do sal derramado, orou.

Levou ao soluçante peito os dedos repletos de terra molhada.

Proferiu uma pequena prece, pediu um desejo, expressou o seu descontentamento pela saída abrupta e inesperada deste plano e agradeceu pela companhia e tudo o que haviam partilhado.

Branquinha, com certeza, ascendeu a um lugar onde a mistura de tonalidades denuncia a brancura pura da sua alma, o azul claro das asas livres e as manchas em cinzento que com saudades deixou plantadas em tantos corações.

 

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