Acabámos de ter entre nós muitos milhares de portugueses espalhados pelos quatro cantos do mundo que regressaram, pelo mês de Agosto, às suas terras de origem, para matar saudades, para assistir a casamentos e a baptizados, para participar nas romarias da aldeia, para irem à feira semanal, para rumarem ao Algarve ou passarem pelo Santuário de Fátima. E obviamente para beberem uma cerveja no café da aldeia ou passearem pelas ruas da cidade mais próxima, ao reencontro de amigos que rumaram a outros destinos.
Gestos tradicionais que se repetem a cada ano que passa e que têm a ver com a necessidade que os portugueses emigrados sentem de, periodicamente, regressarem às raízes para beberem o calor da identidade, darem e receberem os abraços de amigos e familiares, descansarem, retemperarem forças para mais um ano de distância amarga dos que por cá ficam.
É óbvio que não há apenas uma emigração, sejam quais sejam os motivos que a determinaram, e são fundamentalmente de ordem económica. Não há só uma geração de emigrantes, mas várias, e todas diferentes, conforme as condições que os levaram a sair, e as idades que constam no bilhete de identidade.
Há uma geração que partiu nos anos de 1960 ou 1970, para fugir à fome, à opressão salazarista e à guerra colonial, e que corporizou o sacrifício de amealhar o máximo para mandar para a terra, para a compra de terrenos, a construção da casinha dos seus sonhos e a aposta no futuro dos filhos.
E há gerações que tiveram outros comportamentos. Até que as novas mobilidades, as dos nossos dias, apresentam idiossincrasias bem diversas.
Os novos emigrantes portugueses, aqueles que saíram no bárbaro período da tróica, entre 2011 e 2015, na ordem dos 240 mil portugueses, a maioria qualificados, rumaram a destinos como a Inglaterra, a França e a Suíça, sobretudo, sendo um terço mulheres e dois terços do género masculino.
Contudo, e curiosamente, segundo os relatórios mais recentes, mais de 40% dos portugueses que emigraram encontravam-se empregados e com contratos a termo certo, o que levaria a supor que não cairiam no desafio de largar o país. O que os levou a abandonar a zona de conforto foram melhores ofertas de trabalho no estrangeiro. Em segundo lugar, 23%, o que os levou a sair foi a falta de oportunidades de emprego em Portugal.
Os três motivos que levaram os portugueses a emigrar neste curto período foram: a falta de perspectiva de carreira, a procura de novas experiências e a falta de futuro no nosso país.
A maioria destes portugueses são jovens, que avançaram para o estrangeiro e que conseguem situações profissionais animadoras, com carreiras bem remuneradas, valorizadas e respeitadas, em países e cidades desenvolvidas. Jovens que ganham bem, se divertem e integram nas sociedades locais, sem outros propósitos que não sejam trabalhar e desfrutar a vida.
Obviamente, nada os leva a pensar em voltar tão cedo para o seu país. Os índices salariais são aqui muito inferiores, a perspectiva de evolução das carreiras é muito escassa e as condições de trabalho não têm nada a ver.
Num futuro mais longínquo poderão e deverão voltar, mas não a curto prazo.
Emigrantes ou portugueses pelo mundo?
Na realidade actual, com o cosmopolitismo reinante, a facilidade de deslocação pelo mundo fora, as perspectivas bem superiores em todo o mundo, a nível de emprego e de remuneração, a ideia que fica é que, mais que emigração, importa falar em mobilidades, em deslocação de cidadãos, em dispersão dos portugueses pelo mundo.
Ao contrário das gerações anteriores, excessivamente agarradas ao terrunho e ao tijolo, sem formação académica, cuja missão se cumpria em cavar a sepultura no local do nascimento, os jovens dos nossos dias são cidadãos do mundo, sem fronteiras nem barreiras, que se movem com a maior facilidade entre povos e países, até pela maior formação cultural que ostentam.
Por isso, falar de emigrantes hoje em dia é utilizar um conceito ultrapassado.
Hoje, mais pertinentemente, deve falar-se de portugueses a trabalhar por esse mundo além, da Europa à Oceânia, como outros escolhem ou são colocados em cidades e regiões do nosso país!
A realidade do século XXI é já bem diferente dos decénios e séculos anteriores!