A vida passa com a urgência de quem é pouco para tanto que fazer.
Somos crianças e queremos crescer.
Somos adultos e queremos retroceder – ser a infância que passou a correr -.
Estudamos (quando o podemos fazer), iniciamos o caminho profissional.
Vamos namoriscando, observando, até que nos apaixonamos e por fim amamos.
Unimos vidas, criamos laços, rotinas, criamos sonhos – alguns até concretizamos.
Deixamos de ser apenas filhos, para sermos pais.
E é nessa altura, quando verdadeiramente olhamos no espelho e reparamos que crescemos, que descobrimos o quanto somos pequenos.
Os filhos crescem , e quando o tempo parece serenar:
Há uma hora que passou e não demos por passar. Uma ida à escola que acabou por não lembrar. Um nome que teima em não se soletrar.
Um caminho de sempre que os pés deixaram de saber cruzar.
A casa deixa de ser casa e as portas dos armários passam a ser portas de quartos e depois deixam de ser portas.
O amor confunde-se com o primeiro, com o segundo e por vezes é amor nenhum.
Os filhos marés são filhos, marés não serão.
E a pessoa adulta será criança com a lágrima a escorrer-lhe pela face por não se lembrar que não é, e saber que não.
E a vida será apenas uma “puta” que lhe roubou a história, a memória,
a recordação.
