Hoje, para variar, vamos falar mal de alguns alimentos saudáveis.
Eles são saudáveis, é um facto, mas podem ter efeitos adversos na saúde quando se excedem alguns limites. Com a tendência dos últimos anos em destacar alimentos naturais que ajudam a prevenir ou tratar esta doença ou aquela condição, corremos o risco de, sem a devida informação, estar a fazer mais mal do que bem, pelo que importa conhecer alguns condicionantes no consumo destes alimentos saudáveis:
- Castanha do brasil.Esta oleaginosa tem muitos adeptos, mas se um é bom, três pode ser demais. O risco reside no selénio, mineral essencial ao corpo humano, na quantidade 55 mcg/dia, mas em excesso pode causar diarreia, náuseas, queda de cabelo, manchas na pele e até problemas de coração e de rins. Considerando que apenas uma castanha fornece em média 70 mcg, mais do que a dose diária recomendada, deve ter cuidado no seu consumo, mantendo uma dose segura de até três por dia.
- Ovo cru.Se está a pensar “mas quem é que como o ovo cru?”, deve saber que são sobretudo praticantes regulares de exercício físico, tendo no ovo, sobretudo na clara, uma excelente fonte de proteína livre de gorduras. O problema do consumo regular do ovo cru é que, desde logo, tem uma assimilação de proteína na ordem dos 50%, por comparação a 90% na forma cozinhada. Por outro lado, quando cru contém avidina, proteína que funciona como anti-nutriente para a biotina (vitamina do complexo B), captando-a e inibindo a sua absorção.
- Couve crua.Quem diz couve, diz brássicas ou crucíferas, nome pelo qual é conhecida esta família que inclui as couves, os brócolos e o nabo, por exemplo. Consumidas em cru, em grande quantidade, podem interferir com a função daglândula tiróide, devido a presença de dois glicosinolatos (goitrina e tiocianato). Estas substâncias diminuem a capacidade da tiróide em captar iodo, podendo comprometer a produção de hormonas e levar ao desenvolvimento de hipotiroidismo. Claro que para haver este risco, seria necessário um consumo regular de uma quantidade exagerada, próxima de 1 Kg, porém, com a moda dos sumos verdes detox… será que não pode estar em risco?
- Tomate verde.Solanina é uma substância alcaloide que existe em muitos vegetais, como o tomate, beringela, pimentos, batatas, pimentas, por exemplo, sendo a sua concentração elevada quando ainda verdes, como o caso do tomate. Este composto é tóxico, podendo provocar alterações ao nível do sistema nervoso central, do fígado, do intestino, tendo também potencial de perturbar o normal desenvolvimento do feto. Destaca-se a solanina do tomate verde porque, em Portugal, há muitos apreciadores deste fruto ainda verde, e não totalmente vermelho, podendo ao longo da vida ser sujeitos a este tóxico. Tomate sim, mas maduro (completamente vermelho).
- Toranja.Fruto cítrico antioxidante e cheio de nutrientes bons, mas… já reparou que alguns medicamentos contém a advertência para não consumir toranja (ou o seu sumo)? A toranja pode aumentar a absorção e disponibilidade de alguns fármacos, fazendo com que atinja doses tóxicas, isto é, elevadas, mesmo respeitando a toma prescrita.
- Espinafres.Espinafres, oxalatos e pedras nos rins. Todos sabemos das suas qualidades nutricionais, mas os espinafres, tal como grande parte dos vegetais de folha verde, são ricos em oxalatos, substâncias que podem precipitar o desenvolvimento de pedras nos rins. Se tem esta tendência, talvez seja prudente moderar no consumo destes vegetais, limitando a uma a duas porções diárias, sem abusar das folhas verdes nos sumos da moda.
- Óleo decoco.Esta gordura passou de besta a bestial, no seguimento de um suposto estudo que associava o seu consumo a menor percentagem de gordura corporal. Porém, nem oito nem 80, até porque se trata, efectivamente, de uma gordura saturada (aquelas menos boas, associados ao aumento do colesterol, e que devemos limitar a pouco mais 10mg/dia). Ora, uma colher de sopa fornece cerca de 12mg de gordura saturada… moderação, sim?
- Peixes gordos.São ricos em proteína de qualidade, gorduras saudáveis (ómega-3), mas também… mercúrio! Sim, este metal pesado altamente tóxico, sobretudo para grávidas e crianças, está presente em quantidades significativas nalguns peixes. Deve limitar o consumo de peixes com conteúdo moderado em mercúrio, como o atum, o salmão e até o camarão a uma a duas vezes na semana, e evitar o consumo de peixes com elevada concentração deste metal, saber, o peixe-espada, o tubarão e a cavala.
- Chocolate negro.Muito se fala do seu fabuloso poder antioxidante, mas, como quase tudo, deve ser consumido com moderação e escolhendo as variantes com mais de 70% de cacau e pouco (ou nenhum) açúcar adicionado. Consumido em excesso pode levar ao aumento do peso por ingestão excessiva de calorias ou provocar alterações no sistema nervoso, nomeadamente excitação e insónias, devido ao facto de conter também cafeína na sua composição.
- Feijão de soja cru.Contem hemaglutininas, um tipo de lecitina que, em quantidades elevadas, pode inibir a absorção de nutrientes da dieta e até levar à perda de peso involuntária. Como são inactivadas pelo calor, deve optar por consumir a soja e seus derivados, maioritariamente, na sua forma cozinhada.
- Farelo. Farelo (casca) dos cereais é rico em celulose, um tipo de fibra muito saudável aofuncionamentodo intestino e da digestão em geral, porém, esta casca contém também ácido fítico (fitatos), um ácido que, não sendo tóxico e até tendo prováveis benefícios de saúde, tem a capacidade de se fixar com minerais como o cálcio, reduzindo a sua absorção no intestino. Não deixe de consumir cereais e seus derivados na forma integral, mas tenha em atenção se os combina sempre com outras fontes de cálcio importantes na sua dieta, como os lácteos, por exemplo.