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BALADA DE MULHER AGREDIDA

Bate forte, fortemente,
Como quem não quer saber de mim.
Será homem? Será gente?
Gente não é, certamente
e homem que é homem não bate assim.
***
É talvez por ousadia:
e há pouco, há poucochinho,
sem ouvir o quanto lhe pedia
mais o desgraçado bebia
encantado com o seu vinho……
***
Quem bate, assim, fortemente,
com tão maldosa destreza,
que mal me ouve, mal me sente?
Não é homem, nem é gente,
nem é humano com certeza.
***
Tentei ver. O sangue então corria
Da dorida face o azul cinzento sem véu,
Dorido e inchado, quente de agonia…
Há quanto tempo eu sofria!
Que triste fado este, Deus meu!
***
Vejo-o através da vidraça.
A sair em seu belo carrinho.
Parece gente e, quando passa,
Olha para mim em ameaça
Que definha o meu caminho…
***
Fico olhando estes sinais
Sentindo o olhar que assim lança,
e noto, por entre os mais,
os traços animais
num ser que do mal não se cansa…
***
E tão cansados, doridos…
Meus braços, não consigo nem vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, com cortes compridos,
que já nem posso erguê-los!…
***
Que quem é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as mulheres indefesas, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!…
Porque padecem assim?!…
***
E uma infinita tristeza,
uma funda desolação,
entra em mim, fica em mim presa.
Caiem lágrimas na minha mesa
e sofre meu coração.
***
Inspirado na Balada de Neve de Augusto Gil, em homenagem às mulheres vítimas de violência doméstica.

One thought on “BALADA DE MULHER AGREDIDA

  1. É pena que continue a haver mulheres a servir de inspiração para poemas destes. como seria bom a penas escrever sobre o que é belo e bom! Mas, por enquanto, temos de unir esforços para a denúncia, e a poesia é um ótimo meio. Adorei o poema. parabéns!

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