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RELACIONAMENTO E EMOÇÕES

Somos seres relacionais, vivendo em comunidade e sociedade, partilhando emoções, sentimentos, comportamentos, criando momentos e memórias com aqueles com quem nos relacionamos em vários contextos da nossa vida, desde os pessoais, aos profissionais, passando pelas relações com os meros desconhecidos com quem nos cruzamos diariamente.

Os nossos relacionamentos são a maior fonte de emoções da nossa vida e ao mesmo tempo, as emoções que advêm dos mesmos afetam a forma como nos relacionamos e nos entregamos para e numa relação. Ora vivemos corajosamente um relacionamento ora evitamos com medo de sermos magoados e acima de tudo sermos abandonados.

Alguns relacionamentos são alicerçados em determinados sentimentos e emoções com uma consciencialização do nosso sentir, do nosso querer, o que leva a uma manutenção e um cuidar soberbo dos mesmos. Outros são condicionados pelos diversos contextos da nossa vida, que fazem com que tenhamos que nos relacionar com determinadas pessoas, sem ter em conta o nosso querer e o nosso sentir.

Como nos relacionamos com o Outro nos diversos contextos vivenciais? O que interfere com os nossos relacionamentos? Como cuidados dos nossos relacionamentos?

Estas são algumas questões que devemos colocar a nós próprios diariamente, de modo a percebermos e compreendermos a qualidade dos nossos relacionamentos e a limarmos algumas arestas que interferem com a nossa forma de ser, estar, sentir e viver. Muitas vezes dizem que o que se sente não tem que ser explicado, mas no que diz respeito aos nossos relacionamentos, devemos analisar com um equilibro saudável mente-coração a forma como nos relacionamos e o que nos leva a manter ou terminar determinados relacionamentos.

Cada relacionamento é um espelho da nossa forma de ser e das nossas emoções, pois o modo como nos entregamos e vivemos cada relação, espelha o modo como nos relacionamos connosco próprios e como compreendemos e expressamos as nossas emoções.

Assim sendo, apraz-me uma nova questão “És feliz com a forma como te espelhas nos teus relacionamentos e como te relacionas?”.

Não nos relacionamos da mesma maneira com todas as pessoas e até temos um certa mania de rotular os nossos relacionamentos, de modo a selecionar a forma como nos devemos comportar consoante as pessoas com quem estamos, os locais que frequentámos e o tipo de relação que nos é solicitada. Utilizamos assim, aquilo que se pode chamar de máscaras relacionais, que colocamos e adaptamos à medida que vamos precisando com os diferentes tipos de pessoas com quem nos vamos cruzando.

Existem de fato algumas partilhas, sentimentos e momentos que não são vividos com todas as pessoas, porém as nossas emoções e os nossos sentimentos são os mesmos, independentemente do sentido e significado que lhes possamos atribuir, sendo que somos conhecedores que interferem com as nossas relações sejam elas ou não o motivo desse sentir.

Um exemplo de relacionamento onde existem várias regras e normas, são os nossos relacionamentos profissionais, onde à partida nos deveríamos comportar de determinada maneira e esconder as nossas emoções como se tivéssemos um botão ou um interruptor emocional. O nosso contexto profissional, onde lidamos diariamente com diferentes tipos de pessoas e personalidades, é um dos grandes originadores de desequilíbrios emocionais, motivado pelas regras que temos que seguir, pela forma como dizem que nos temos que comportar e onde vamos escondendo as nossas emoções e transformando-as com sentidos e significados totalmente distintos.

Passamos imenso tempo da nossa vida com os nossos colegas, com os nossos clientes que nos vão conhecendo através das nossas expressões não-verbais e que partilham connosco uma imensidão de emoções, que chamo de coletivas e que estão relacionadas com o desempenhar da nossa profissão.

Quando partilhamos o mesmo tipo de emoção, apesar de vivida de forma diferente por cada pessoa, estamos a potenciar esse relacionamento, devendo por isso, estar atentos e unir esforços para encontrar estratégias que permitam gerir essas emoções de forma adequada, aperfeiçoando, cuidando do nosso relacionamento profissional e consequentemente pessoal.

Quando nos cruzamos com alguém na rua, aqueles meros desconhecidos com quem cruzamos o olhar, com quem viajamos nos transportes públicos, estamos a desenvolver um relacionamento muito especial, mesmo com a ausência de palavras. Nestes momentos que se repetem dia-a-dia, na nossa jornada mais ou menos rotineira, estamos a nos relacionar com imensas pessoas através de partilhas cúmplices que interferem com a nossa forma de sentir e ser.

Quantas vezes, não ficamos revoltados, tristes, alegres, experienciando um vasto conjunto de emoções, ao assistir a determinadas vivências de pessoas que nos são totalmente desconhecidas e hipoteticamente indiferentes? Nestes momentos estamos a desenvolver um novo tipo de relacionamento, na medida em que a emoção do outro cria uma emoção em mim e a minha reação, verbal ou não, irá criar uma emoção no outro.

É com base nestas ideias que muito se defende que se sorrirmos para alguém na rua, iremos mudar um pouco o seu dia e inconscientemente poderemos estar a criar pequenas alterações em todo um campo emocional que nos é desconhecido. São estes simples e banais momentos que criam transformações na nossa forma de ser, ao sermos agraciados pelo olhar, pelo sorriso, pela experiência e pela vida de alguém, transformando-se esse momento numa rica fonte de aprendizagens.

Porém, os relacionamentos que nos fazem sentir mais, viver com mais intensidade, experienciar as emoções de forma mais intensa, são os de cariz mais intimista: os familiares, amorosos e de amizade. Quando falo em relacionamentos amorosos é tão-somente sobre aqueles com intimidade física/sexual associada, pois todos os nossos relacionamentos são de Amor!

É com estes relacionamentos que aprendemos imenso, criando novos significados e sentidos para as nossas emoções quer positivas e quer menos positivas, tomando decisões baseadas nas experiências e consequências vividas nestes relacionamentos e criando interferências em todos os outros já estabelecidos ou por estabelecer.

Aprendemos com estes relacionamentos a conhecer quem somos, ao observarmos o nosso reflexo espelhado nos comportamentos dos outros e ao lidarmos com as consequências dos atos de cada envolvido nesse relacionamento e como o amor está envolvido, associamos muitas vezes a ideia da envolvência do sofrimento como se tivessem que andar de mão dada.

Os relacionamentos em si, não são fonte de sofrimento, mas sim a forma como cada pessoa envolvida sente, vive e cuida de ambas as partes envolvidas e do todo dessa relação. É ao mesmo tempo a débil gestão de expetativas que nos faz culpar os relacionamentos, como se o outro lado fosse o culpado de cada acontecimento, de cada emoção que sentimos.

É possível vivermos relacionamentos saudáveis e felizes, mesmo aqueles que quando se deterioram ou terminam, são uma fonte de grande tristeza, revolta e angústia. A consciencialização e integração dos momentos e das emoções vividas durante os relacionamentos, é uma forma de atribuir um novo significado ao sofrimento que possa advir dos mesmos, tendo em conta cada aprendizagem e mudança conquistada na e com a relação com o Outro.

Somos seres relacionais, com necessidade de partilhar emoções, conhecimentos e experiências com o Outro, para que de igual modo possamos potenciar o nosso autoconhecimento, crescendo, transformando e evoluindo. É esta a grande beleza dos relacionamentos: a partilha, o crescimento, a evolução.

Os nossos relacionamentos são os grandes responsáveis pelas nossas aprendizagens e pela nossa transmutação, na medida em que cada relação faz com que olhemos atentamente para no nosso mapa emocional, reconhecendo a importância da compreensão e gestão das nossas emoções, da atribuição de significados adequados a cada contexto, para que não terminemos nenhum relacionamento mesmo antes de o mesmo ter começado.

Relacionar com o Outro implica refletir sobre a relação connosco próprios, sobre a forma como cuidamos das várias relações do nosso interior, do nosso equilíbrio coração-razão e como transformamos diariamente o mais belo relacionamento de todos: com o nosso Eu!

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