Todos os anos por esta altura o tema relativo às controversas praxes académicas volta à ribalta. Certamente não pelo seu bom e adequado uso, mas pelo abuso e pela humilhação que em algumas situações ocorre, como a comunicação social tem a cada passo noticiado.
Não é novidade para ninguém que a primeira reacção que ocorre aos jovens estudantes, pelo menos, a muitos deles, acabado o 12º ano e conseguido o difícil “bilhete de ingresso” num estabelecimento de ensino superior, é como hão-de enfrentar o conjunto de práticas muitas vezes sádicas e obtusas que a “tradição” coloca na mão dos “doutores” para fazerem dos mais novos o que lhes der na real gana. Nunca ninguém sabe o que vai encontrar ou o que lhe pode acontecer, seja onde for colocado. É verdade que muitos caloiros, porventura a maioria, com ou menor vontade, levam a praxe numa desportiva e colaboram na sua própria humilhação com a melhor disposição. Mas, como é natural, ninguém é igual a ninguém e há outros jovens que não aceitam o vexame e rebelam-se contra o pesadelo dos abusos exercidos pelos mais velhos sobre os que entram no ensino superior. E estão no seu pleníssimo direito de contestar o clima de terror que assola as universidades e politécnicos na abertura das aulas. Alguns – a ponta do iceberg – vêm para os jornais contar a sua indignação mas muitos outros calam, silenciam, engolem os desaforos e desabafam apenas perante a família e os amigos. Os mais sensíveis, poderão ficar marcados por traumas para uma vida inteira.
Não se diga que é normal e aceitável acorrentar um grupo de jovens e passeá-los pela cidade, a gritar obscenidades; ou fazê-los rebolar em poços de lama, deixando-os irreconhecíveis; ou obrigá-los a empurrar com o nariz moedas deitadas ao chão; ou cobri-los de farinha; ou, como tive oportunidade de presenciar recentemente, partir ovos e ensebar a cabeça dos novatos, deixando-os com um aspecto degradante; ou coagi-los a emborcar misturas alcoólicas que rapidamente os (e sobretudo as) colocam em situações penosas. E não serão estas, ao que se ouve, as sevícias mais graves, porque haverá universidades em que as praxes atingem requintes de malvadez acima de toda a imaginação, como recentemente se soube existir na Beira Interior…
O espírito da praxe, ao que alegam os seus defensores, consiste na “integração” dos caloiros na vida académica, o que até será uma atitude altamente louvável e pedagógica. Integrá-los será, ou seria, assim, socializá-los perante o grupo já existente, abrir-lhes portas, mostrar-lhes caminhos, dar-lhes a conhecer a alma da academia. O que pressuporia um clima de diversão, de festa, de alegria, de jogo puro e simples. Mas, por Deus!, que é que isso tem a ver com a boçalidade e a violência de que se revestem as práticas injuriosas que só não vê, dentro ou fora de muitas escolas superiores, algumas sem qualquer historial no ensino, quem se recusa a fazê-lo.
Já agora, impõe-se questionar: quem controla as praxes? Quem, com autoridade para aplicar sanções, acompanha o desenrolar dos acontecimentos e coloca um travão quando os limites são ultrapassados e os abusos sobrevêm, o que será o mais comum? Quem, enfim, avalia os riscos e as sequelas infligidas naqueles que pura e simplesmente se negam a participar na flagelação e são penalizados por isso mesmo? Nem se diga que são os próprios “doutores”, porque seria o mesmo que levar um criminoso a um tribunal onde ele é o defensor e o juiz!…
Um outro aspecto absolutamente infame tem a ver com as penalizações previstas nos regulamentos das praxes para os jovens que se declarem anti-praxe: que não podem participar em qualquer actividade académica, o que até nem será o pior; que não podem usar traje académico; participar na missa da bênção das pastas; usar anel de curso; participar na entrega protocolar de diplomas. Mas como?! Estamos a falar de quê?! A vida académica e o aproveitamento escolar dependem da adesão à praxe? Estamos todos loucos ou apenas os autores de tais regulamentos, os que alegadamente os seguem e os que autorizam tais enormidades?
Esperamos que as entidades responsáveis utilizem os recursos de que dispõem para repor a legalidade e a moralidade onde elas parecem não existir, designadamente nas situações em que pequenos ou grandes grupos de alunos utilizem a arma da praxe ou a ideia de que é preciso uma festa de iniciação para humilhar e espezinhar os seus colegas mais novos.
Ficamos à espera de que as leis se apliquem e cumpram dentro e fora das universidades, relativamente às questões das praxes académicas. Gostamos de ouvir e de ler que “não há paraísos para a humilhação ou para práticas fascistas e esses paraísos não podem estar dentro do ensino superior”.
Por mim, palmas com ambas as mãos, até doer!
Sou a favor de praxes integradoras, saudáveis, respeitadoras da individualidade e da dignidade dos caloiros. Sou absolutamente contra as práticas que bestializam seres humanos, que agridem, humilham, rebaixam os jovens, vingando-se os pretensos “doutores” do que outros “doutores” lhes fizeram dois ou três anos antes. E as praxes passam a ser exercícios de vingança, desforra e represália, violência e sofrimento!
Como afirmava, há anos, o ministro do Ensino Superior Mariano Gago, “as universidades não devem ser escolas de submissão e de iniciação a práticas fascistas”.
Quando , o que quer que seja , sai do control ..da sociedade …racional.. e atinge niveis de descontrolo civico ,moral ..e legal
Como é o caso das praxes..academicas…a soluçao já tem que ser radiacal…Acabar com as praxes…nem de integraçao soudavel , nem as praxes vergunhosas a que nos acustuma-mos , e acabaram sendo ..da Praxe…!!
Pra grandes venenos grandes remedios…acabar co aas praxes..