Talvez… Talvez esteja na altura de dizeres basta.
Talvez esteja na altura de te sentires mais do que realmente és, de deixares de viver agrilhoado pelo pensamento comum, de te condenares pela natureza de que és feito, apenas e só, porque a moral social, hipócrita, cínica e dissimulada, acha que viver em liberdade é existir na sombra fria da verdade.
A sociedade é a mãe de todas as castrações. É castradora das escolhas, do pensamento, da erudição, da arte, das mais variadas formas de expressão e até do livre-arbítrio que, sob o jugo da moral e bons costumes, tanto defende como desígnio.
És produto das mais variadas convenções quando devias ser apenas matéria das tuas vontades.
E tu, como filho bem educado, obedeces, acreditando que não és mais do que um ser vil, reles e sem valores, sempre que te desvias da ordem imposta pelos teus mais ilustres tutores.
Mas isso és tu, porque queres, porque deixas, porque te é mais fácil ser carneiro do que pastor do teu querer.
A mim, podem coser-me a boca com linhas de censura, podem querer calar-me pela mordaça, prender-me pela vergonha, toldar-me pela ideologia, amedrontar-me com insuportáveis infernos, mas nunca matarão quem sou porque, mesmo que me obriguem a viver no avesso do mundo, serei sempre cão à volta do rebanho e farei da transgressão a minha missão e, por mais irritante que seja o meu ladrar, jamais me silenciarão.