As redes sociais e em especial o Facebook dão uma sensação ao utilizador de poder de escolha, de fácil acesso a conteúdos e informação que de outra forma não seria possível. Como também permite que qualquer utilizador escreva livremente, facilmente fideliza um público através de gostos ou comentários, permitindo-nos ter voz sobre os mais variados temas, dando-nos a percepção que é um espaço que democratiza o poder à palavra e que temos o controlo da informação sem filtros ou meias-verdades. Muitas vezes o que lemos nas redes sociais damos por adquirido que são factos. A verdade infelizmente é outra, por trás dos post e das notícias que lemos existe um algoritmo que através da nossa interação, irá ditar o que nos aparece no nosso ecrã. Logo, apesar de acharmos que aqui não somos manipulados, infelizmente é o contrário, somos facilmente mais manipulados nas redes sociais como demonstra as técnicas utilizadas pela empresa Cambridge Analytica, quer no Brexit, ou na eleição do Trump.
Facilmente percebemos, que nas redes sociais, como o nome indica exploram as emoções, os sentimentos, a pequena intriga e exploram menos a racionalidade ou o debate construtivo. Os post com mais visualização por norma são mais do contra do que a favor de algo. A polémica e o mal dizer, não só se propaga mais depressa, como tem mais seguidores e comentários, do que um debate onde se partilham ideias. Por isso, o que tem sucesso são as posições mais extremas. Não é à toa que os partidos mais extremistas como British First (partida fascista no Reino Unido) e em Portugal o partido nacionalista de extrema direita PNR têm muito mais presença e seguidores nas redes sociais do que nas urnas. Os moderados têm menos “direito de antena” nas redes sociais.
Infelizmente em muitos aspectos as redes sociais transportam-nos para os tempos medievais, onde todos julgam todos, onde as meias-verdades são publicitadas e descontextualizadas para que passem a ser verdades. A ridicularização e o bullying colectivo “democratizou-se”, em especial para os políticos, sejam eles corruptos ou não, dando-nos a capacidade de nos sentirmos “os justiceiros” e os detentores da verdade e da ética. Infelizmente a comunicação social também tem seguido esta linha, piorando a situação e por isso, não há esperança que a médio prazo haja qualquer melhoria. Não nos dando conta, esta situação contribui para que pessoas com capacidade e que possam estar disponível para a participação política sejam desencorajadas.
Se é verdade que os partidos nas campanhas sempre tentaram anular os seus adversários explorando as meias verdades e com a radicalização dos seus discursos, de forma a criarem uma “onda” que lhes proporcionasse a vitória, no entanto sempre tínhamos os órgão de comunicação social, que através da informação e do debate sempre davam outras perspectivas. Hoje, como cada vez mais as pessoas “isolam-se” nas redes sociais, lêem menos os jornais ou vêem menos os noticiários, este fenómeno e técnicas estão a ser usados a uma escala nunca visto. Quando vejo que o sucesso do Brexit, a eleição de Trump e agora o efeito Balsonaro, estão influenciados com o uso das redes sociais, em especial usando mentiras e meias-verdades, transportando a ideia que é o Povo contra Elite, começo a pensar se as redes sociais serão o instrumento adequado que beneficiará a democracia. Tenho no entanto a noção que as redes sociais e a internet são um meio que permite que mais gente por exemplo leia este artigo e por isso, a solução não passará por fechar as redes sociais, mas será muito importante que pessoas como eu que acreditam e defendam a Democracia, estudem, reflictam e debatam estes fenómenos de forma a que seja possível promover a democracia.
No entanto não se esqueçam com as redes sociais não estamos ligados ao mundo, mas estamos ligados à “nossa aldeia” e principalmente às nossas crenças, assim o conselho que dou sejam mais críticos e procurem outras opiniões, fontes e meios.