Sou de origem transmontana e como tradição o consumo (exagerado) de carne é normal. Porco, vitela, frango, são os mais utilizados. Um dos meus pratos favoritos era mesmo fígado de porco! A caça é uma prática comum e em casa dos meus pais a perdiz e codorniz eram frequentes. O consumo de leite era na minha infância oriundo diretamente da vaca que após fervido era consumido! A pescada, a sardinha, carapau e o “fiel amigo,” Bacalhau comprado em Espanha até seco ia! E tudo sabia bem, ou melhor, muito bem! Sentimo-nos confortáveis quando inseridos no meio em que todos partilham os mesmos hábitos, as mesmas práticas, onde ninguém põe em “causa” comportamentos tidos como naturais, normais, aceitáveis.
Um dia, há mais de 35 anos, conheci alguém que não comia carne (de animal terrestre!) ainda que algum peixe e que dizia que seguia uma tal Macrobiótica! A ignorância infelizmente leva a tratar com desdém quem ousa desafiar a normalidade. Há sempre alguém com alguns “parafusos” a menos… e curioso é que normalmente são os outros…e não nós!
Nessa altura não havia um “Dr Google” e o interesse em pesquisar “coisas de doidos” ou de “doentes” que não queriam comer carne, não era muita.
Mas o tempo vai passando, as leituras vão-se fazendo, o meu consumo de carne diminuiu drasticamente, só quando comia fora de casa (em minha casa nunca se cozinhou carne)…
Com um grupo de amigos decidi frequentar o Curso de Macrobiótica em Lisboa no IMP (Instituto Macrobiótico de Portugal), com o então já famoso Francisco Varatojo e sua Esposa Eugénia Varatojo. Hoje Francisco Varatojo já não está fisicamente entre nós e estarei sempre grato a ele (e equipa do IMP) por todos os ensinamentos prestados, pela autenticidade, entusiasmo, determinação e serenidade demostrada. Pouco meses depois tinha decidido abandonar o consumo de carne de animal terrestre e seus derivados. Apenas comia algum peixe. É muito interessante quando, enquanto professor, na cantina da escola informei que não comia nada que tivesse carne! Caras surpresas, sorrisinhos de colegas e alunos, etc, mas estava decido, não por mera moda, mas pelo sofrimento dos animais, pela minha saúde e do planeta!
Anos mais tarde, ao ter conhecimento do Partido pelos Animais e pela Natureza, hoje, Pessoas Animais e Natureza, e ao ler os seus princípios constatei que me identificava quase na totalidade com os mesmos. Quanto mais pesquisava e aprendia, para não entrar em dissonância cognitiva comigo mesmo, mais se tornava urgente tomar decisões. E tomei! Não comeria mais peixe! Curiosamente essa posição foi ainda mais estranha para muitos! Batatas com bacalhau era um dos meus pratos favoritos e que era comum comer com alguns amigos. Um dia com esses amigos no mesmo restaurante onde todos pediam batatas com bacalhau, eu pedi outra coisa…. bem mais simples! Hoje posso dizer que o meu estomago não é um cemitério de animais! Sou apenas uma “gota de água” em prol dos animais, quer na alimentação, experiências, diversão, desporto etc! Assim sendo considero-me um macrobiótico praticamente vegan! Pois ser Vegan implica uma vida totalmente livre de utilização animal (vestuário, calçado, componentes de automóveis, cremes, etc).
Em algum momento da minha vida deixei de gostar de vitela, presunto, fígado de porco, sardinhas ou bacalhau? Não! Isso significa que quando vejo meus amigos (carnistas) a comer fico a salivar? Tentado a ir atrás do menu deles? Ao contrário do que muitos pensam, absolutamente nada! Aliás, para ser sincero, não fosse o respeito e amizade que tenho por eles, o cheiro por vezes é mesmo incomodativo! Há que respeitar, mas jamais concordar! Já estive do lado deles e é natural que o que eles pensam de mim seja algo parecido com o que eu pensava daqueles que já o faziam! Mas os tempos são outros, a informação baseada em evidências científicas a favor do veganismo é cada vez mais sólida. A eliminação do consumo de carne é fundamental para a nossa sobrevivência. Ser Vegan é pois um ato de consciência profunda, de ética e compaixão por todos os Seres! Assim, como dificilmente os vegans em Portugal o serão desde nascença, é legítimo dizer que os vegans gostam de carne… mas não a comem. Jamais! Afinal, o dia 1 de Novembro foi o dia Mundial do Veganismo.