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SABOR A CASTANHA

 Recordo com imensa saudade e quietude, os dias frios e chuvosos aquecidos por camisolas interiores que espreitavam por entre os buraquinhos de agasalhos de lã, carinhosamente, tricotados à mão.

A temperatura baixa e a humidade que na rua se faziam sentir, eram de imediato dissipadas ao entrar naquela casa.

A casa dos meus avós, onde um lar doce e quentinho fazia chegar até mim, o cheiro daquele fruto tão característico desta época.

Atravessava então a porta, percorria o pequeno corredor e lá estava ela: uma panela fumegante que cozia castanhas numa água tingida e aromatizada pela erva doce.

As bolhinhas ferventes emanavam uma fragrância outonal que me rejubilava a alma com a antecipação do sabor que brevemente me iria deliciar.

Aqueles pedacinhos de alegria soltavam-se aos poucos da casca que os envolvia e lançavam-se corajosos à água onde rodopiavam livremente dentro do recipiente.

A familiaridade daquele espaço tão pequeno, repleto de inúmeras histórias contadas à mesa, a cozinha, corava-me a face que instantes antes se encontrava pálida e congelada fustigada pelo vento cortante que frequentemente se fazia sentir.

Reviver episódios da infância traz-me sempre o sopro traduzido em assobio acompanhado por grossas gotinhas num aguaceiro desafiado por galochas, guarda-chuva, cachecol e luvas daquelas  que nos imobilizam os dedos e deixam à vontade apenas o polegar.

Afiguravam-se  excelentes para envolver a face e afagar os olhos cheios de sono que ansiavam trespassar um jardim repleto de cores espalhadas pelo chão.

Um chão crocante pincelado a outono: amarelo, laranja, castanho.

Aquelas folhas estaladiças que vibravam à passagem satisfeita no trajeto para a escola.

Chegava, invariavelmente, o dia em que era imperativo retirar uma das folhas à natureza e com redobrado cuidado transportá-la, bem segura no meio das mãos enluvadas, até à escola.

Aí, haveria de ser esponjada com um frasco de cola líquida.

Nesta viagem alucinante, desde que caíra da árvore até sentir sobre si os pinguinhos que a fariam segurar-se ao seu destino final, jamais suporia que se tornaria imortal fazendo parte do trabalho coletivo exposto na parede à entrada do edifício.

Perco-me nas memórias e são horas do lanche.

Há castanhas cozidas e macias para comer e um aroma inebriante para respirar com desmedido apetite!

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