Poderia iniciar esta crónica invocando os maiores pensadores, quem mais se debruçou sobre este conceito, a liberdade.
Sartre, Kant, Marx, Bakunin, Debord, Schopenhauer, Pettit, não desmerecendo tantos outros a quem me furtei por omissão.
Na raiz e definição mais existencial e filosófica da sua natureza, compreende-se a liberdade como sendo algo que denota ausência total de servidão e submissão.
De imediato percebemos o logro…
(Quem de vocês não se sente subserviente e submisso a alguém que vos condiciona os “livres passos”?)
A liberdade é de facto isso mesmo, sermos livres, ponto!
Ela existe na plenitude ou simplesmente não é. Não há meio termo, meia liberdade, não pode ser subordinada, acomodada, sugerida ou conduzida.
O facto é descomplicado: à luz da vivência em sociedade, ela não existe.
Sinto-me livre, de escolher, apenas… por entre as regras, condições, leis, formatos, imposições pré-estabelecidas e “comercializadas” como sendo toda a panóplia realizável ao meu alcance.
Vendem esta falsa e vã sensação de livre arbítrio como sendo o néctar mais apetecido num golpe de sedutor marketing de vidas humanas, e apelidam-na assim falsamente de liberdade (porque soa àquilo a que todo o ser humano almeja, criando outra poderosa criação e motor de estímulo: a esperança).
Vivemos em condicionalismo… Sim, pasme-se o mais distraído!
Em sociedade, temos escolhas dentro de um leque limitado de soluções, elas próprias engendradas por quem nos governa. Nunca o ser humano em sociedade e comunidade será alguma vez livre.
A dor no final do dia não se deve a uma jorna mais extenuante, é o resultado do peso e marca daquelas grilhetas que não marcam o corpo, mas lesionam a alma. Ferreteiam-na dia e noite, incessantemente.
No fundo, o nosso subconsciente sabe-nos subjugados, vergados, limitados, exíguos, circunscritos a uma esfera de ilusões. Ele reage, insurge-se pois essa experiência é discordante com a verdadeira natureza humana.
Desse reverso manifesta-se a desarmonia emocional e consequente desequilíbrio do corpo. Segue-se a doença como sinal e alerta que, como sempre, reprimimos e calamos à força.
Sou livre, de ficar manietado, por tudo aquilo que poderei prover à sociedade, enquanto a minha força vital assim o consentir.
Sou livre de ver escravizado todo o meu potencial seguindo regras ditadas por quem mais ganha em usurpar.
Sou livre de me ver esvair numa sociedade de dúbios costumes e leis, até chegar àquele ponto de inflexão em que algo mais profundo me faz questionar o próprio sentido da vida.
É nesse encurvamento da alma, demasiado tardio, que escutamos a voz da certeza.
Nesse preciso instante em que soam todos os alarmes, penitentes, curvamo-nos com o descomunal peso do insucesso; da frustração por termos, nesta vida, pecado por indolência.
Não vivemos livres, sobrevivemos para perdurar num mundo de interesses privados que nos acorrentam a compromissos sem possibilidade de desapego nem qualquer plano de contingência…
“Bem-vindos seres “inlivres” e que a ideia de liberdade vos visite onde exclusivamente habita: nos vossos mais cobiçados sonhos!”