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QUILO E MEIO DE AMOR

Eram mais ou menos quatro da tarde, quando a médica disse que teria que ficar internada: tudo indicava que entraria em trabalho de parto.
Entrei em pânico,  era véspera de completar 25 semanas de gestação, e não as 38 que são supostas.
Entrei em choque, tive medo de reviver a perda pela qual já tinha passado.
Os filhos não deveriam ter pressa de chegar.
Os filhos nunca deveriam ter pressa de partir.
A indicação foi de repouso, barriga para o ar e de paciência.
Resumi tudo em duas letras: fé.
Estive cinco semanas deitada na cama de hospital.
A cama era o sofá, a casa-de-banho era na cama.
Até o cabelo era lavado na cama.
As refeições nesse sítio do costume, e já chorava quando via couves de Bruxelas,  mas comias as ditas cujas, porque o que desejava era que o meu filho ficasse forte.
Soube de cor o teto daquele quarto, e vi as camas ganharem inquilinos breves, diferentes.
Às vinte e oito semanas tomei as injeções para a maturação pulmonar.
Às trinta semanas e um dia, o meu filho decidiu nascer.
Não cabia mais ninguém na sala de parto, literalmente.
Estava cheia e vazia.  Por momentos apenas existiu lá o meu filho, o meu amor e o meu medo.
Não peguei nele ao colo.
Levaram-no para unidade de neonatologia.
E foi lá que iniciei a aprender a ser mãe.
O Gustavo chegou a pesar 1,4kg, e media 42,5 cm.
A chupeta quase lhe tapava a cara toda.
As fraldas pareciam as das bonecas da minha filha.
Os meus músculos estavam atrofiados devido a estar cinco semanas deitada, era doloroso estar em pé. Era doloroso ser, não bastasse só e apenas ter dado a luz.
Ao terceiro dia, um domingo, dei o primeiro banho ao meu filho. Cheio de “fios”, era pouco maior do que as minhas mãos.
A banheira era uma espécie de saladeira em inox.
O Gustavo só teve força para agarrar o peito uma semana antes de ter alta.
Contudo eu tirava na mesma para ser intruduzido pela seringa e posteriormente pelo mini-biberão.
Foi das melhores sensações que tive na vida: amamentar o meu filho.
Cada hora na incubadora era uma Vitória.  Cada hora naquela sala era uma lição de vida.
O Gustavo teve um mês na neonatologia. Nesse mês soube de cor os corredores e as paredes do hospital.
Nesse mês as enfermeiras, médicos,  auxiliares, foram , juntamente comigo,  mães do Gustavo, e tias, e anjos da guarda.
Nesse mês eu tive uma das lições maiores da minha vida:
Não se é grande, sem primeiro ser-se pequenino.

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