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CARINHOSOS DANOS COLATERAIS

Há cerca de um ano, iniciei as minhas aventuras no mundo da escrita, muito por culpa de uma amiga de infância que me lançou num concurso duma editora. Há sempre alguém, como na música dos Trovante, que nos faz falta, e nos chama à razão quando andamos distraídos dos nossos gostos e prazeres, ocupados com a vida, o sustento, as obrigações e as expectativas. “Onde tens que ir, não podes fugir”, e agora, à posteriori, é fácil de ver que, tal como a água que não cede a limites geográficos implementados pelos humanos, e encontra sempre um caminho para fazer valer o seu destino, também eu denotava fugas nessa necessidade de escrever, e de vez em quando saía alguma coisa.

Não tenho expectativas ou ambições, vou caminhando, o que até agora tem sido muito satisfatório. Escrever é um prazer imenso, é-me uma necessidade tão básica como as mais básicas, faz parte de mim, privado ou público. Desde o momento em que comecei a torná-lo público, tenho conhecido pessoas muito especiais. Não sei se tem a ver com o facto de partilharmos uma mesma sensibilidade, se bem que muito diferentes como pessoas e na escrita que desenvolvemos, mas consegui agregar-me a pessoas que zelam pelo bem comum, divulgam concursos, promovem formações, partilham informação. Sei, que já me foi dado a ver, que existe um meio mais negro, onde a luta de egos inflamados impera, mas fico fora desse ambiente. A escrita é para me fazer feliz, não para me criar problemas ou dores.

Tendo uma página e um blogue, e escrevendo crónicas para duas revistas, é inerente alguma exposição e os contactos pessoais têm-se sucedido. Na rua, pessoalmente, só fui reconhecida uma vez, e fiquei tão espantada que, pasme-se, me faltaram as palavras. Imagino que a pessoa em questão tenha tido dúvidas sobre o facto de eu ser capaz de escrever duas frases, a avaliar pelo incidente…

Esse contacto com os leitores é muito compensador, senão mesmo o melhor de tudo. À parte alguns inconvenientes, ou pessoas com intenções muito retorcidas, posso dizer que a maioria dos contactos são extremamente reconfortantes. São pessoas cujos nomes já são familiares, que quase diariamente seguem os textos, que os comentam, partilham ou simplesmente desejam uma boa noite. Alguns, mais intimistas, partilham comigo um pouco das suas vidas, porque algum texto os tocou particularmente e se identificaram com o mesmo. Já me aconteceu uma pessoa me pedir para pôr em texto um dilema da sua vida, o que significou muito para mim, pela confiança e partilha. Outros contam que a minha página já faz parte do seu dia-a dia, e nos dias seguintes ao bloqueio da mesma, tive muitos comentários que denotaram a sua falta. Há ainda aqueles que me perguntam se já editei, e o quê, e que gostariam de ler algo meu em papel. E há aqueles, que descobrimos que seguem a página porque adoram ler, mas as condições económicas, menores do que outrora, os trouxeram aos blogues, que lhes enche os dias e afasta a solidão.

Não tenho objectivos, como disse. Em apenas um ano, fiz coisas que nunca pensei fazer, ou pelo menos em tão pouco tempo. Foram surgindo oportunidades e fui andando e vendo.

Se bem que a crítica isenta e técnica seja importante, e é nesses termos que avaliamos o nosso trabalho, ainda que não seja a minha vida profissional, este carinho e proximidade com o nosso público, e a inserção numa comunidade de autores saudáveis, é sinónimo de um reconhecimento que muito prezo.

Uma vez uma senhora que muito estimo disse-me qualquer coisa como:

“…não sei fazer avaliações literárias, porque infelizmente os meus conhecimentos são poucos, mas uma coisa eu sei, se o que leio me toca se as cores que vejo, em pintura por exemplo, me tocam. É assim que eu sei…”

Na minha modesta e empírica opinião, parece-me um excelente critério.

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