Sou um grão de areia, submerso no deserto;
Um, entre tantos, nesta eterna lida,
Buscando um sentir que dê sentido à vida,
Buscando longe o que se encontra perto.
Quando olho dentro de mim e reflito na verdadeira essência daquilo que sou, é exatamente assim que me sinto: um pequeno grãozinho de areia. Porquê um grão de areia? Que significado e importância poderá ter um simples e humilde grão de areia?
Se pensarmos de maneira superficial, poderemos ser levados a concluir que pouca ou nenhuma, efetivamente. Basta olhar em redor e pensar nos muitos milhões de seres humanos que povoam o planeta Terra; se pensarmos no mar, com os seus muitos milhões de gotinhas de água diluídas nessa imensidão onde o olhar se perde; se erguermos o olhar para o espaço e nos detivermos na manta de estrelas que o povoam sob as nossas vistas, ficando o que o olhar não alcança por conta da imaginação; se pensarmos num imenso areal, ou num deserto, e considerarmos em cada um dos grãozinhos que o constituem… de per si, sim, parecer-nos-á que cada um deles é uma coisa mínima, com pouquíssimo significado.
Mas, se nos detivermos numa reflexão um pouco mais profunda, é justo que nos interroguemos: sem cada um dessas gotinhas, o que seria do imenso oceano? Como se formaria o belo areal, ou o deserto imponente, sem cada um dos grãozinhos de areia que o constituem? Em que ficaria o sumptuoso espaço sideral, sem cada corpo celeste que se estende por esses céus infinitos? Que seria da Terra, sem cada um dos seres humanos, seus filhos?
Poderíamos continuar em busca de exemplos, pelo dia fora, não nos faltariam onde os descobrir. Cada ser, por mais humilde que seja a sua aparência, é único e valioso, seja ele um ser humano, qualquer outro ser vivo, um ser de natureza inerte, ou uma estrela do céu. Tudo, neste imenso Universo que habitamos, tem o seu papel, exerce a sua influência, trabalha para o equilíbrio e a harmonia do todo. Quando um falha, quando desiste de cumprir o destino que se atribuiu para a harmonia universal, dá-se o desajuste, o desequilíbrio, e todos saímos a perder. Não só o que falha ou desiste. Todos.
Quando, imersa nas minhas reflexões, busco um sentido para a minha existência, descubro que só ganho significado quando me harmonizo com os outros, entendendo os outros como o resto da humanidade, mas também tudo o que existe e está para além dela. Comecemos, no entanto, pela Terra. Se conseguirmos apreender o sentido de pertença a uma humanidade em que cada um, o tal grão de areia irrepetível e imprescindível, tem uma missão inadiável e insubstituível, já será um avanço considerável, uma etapa cumprida para a harmonização e o equilíbrio geral.
Gosto de me perder entre a multidão,
Esquecida de mim sem me olvidar.
Acorrentada a este meu caminhar,
Leva-me o vento, sem me afastar do chão.
Gosto de me sentir diluída entre a gente
Sem nome nem rosto: desconhecida;
Faz-me sentir parte integrante da vida,
Embalada nas vagas, liberto a mente.
É exatamente assim que me sinto. É esta a importância que me atribuo. Um ser entre muitos, diluída entre a multidão. Um ser que, sozinha, não passará talvez de um humilde grão de areia, menor que uma gotinha do oceano, uma entre muitos milhões, mas que, com os outros, assumido o papel que se propôs, poderá contribuir para que o mundo possa ser um lugar melhor para todos e cada um de nós.
A ideia de ser parte integrante da vida, assume-se como uma imensa responsabilidade, em que efetivamente, todos somos responsáveis por todos, numa cumplicidade de irmãos do próprio Universo, sendo cada gesto, cada olhar, cada palavra ou pensamento, um ato de coragem ou covardia, porque afetará positiva ou negativamente o equilíbrio, a harmonia e a estabilidade geral. Será motor de felicidade ou de sofrimento, para nós e para os outros. Aqui, agora, e em qualquer outro tempo ou lugar.
Quando cairmos na tentação de desistir, pensando que somos apenas um, que não importa o que façamos, que não temos peso nem influência, pensemos nisso: o que seria o imenso deserto sem o humilde grão de areia?