Uma vez por semana, pelo menos, trabalho na Lixa , e vejo – o que suponho ser o filho – o homem mais jovem tirar com algum esforço, do carro, o homem mais velho.
O senhor tem uma dificuldade tremenda em deslocar-se, como se fosse uma escultura, o filho lá guia, entre os braços, o pai, até ao café.
Fico consternada, sempre que aquele carro estaciona e vejo um filho a ser pai do pai e o pai a ser filho do filho.
Até parece, realmente, que é quase Natal.
Deveria haver “Black Fridays” de humanos melhores, ou de sentimentos melhores.
Ver filas enormes de pais que querem adquirir mais tempo para estar com os filhos, e de mães que desejam sofás para darem colo aos pequenos e aos graúdos, também.
Deveria haver “Cyber Mondays” que promovessem as memórias boas e vontade de cultivar memórias novas, frutos de momentos bem passados, com gargalhadas, cumplicidade, respeito, alegria…
Deveria haver promoções de gratidão, amor, respeito, alegria, para que pudéssemos encher os sacos, que é como quem diz os braços, e oferecer aos nossos familiares, aos amigos.
A conhecidos e desconhecidos.
Deveria haver um stock off de doenças, para que os pais vissem os filhos crescer saudáveis, e os filhos vissem os pais partir depois de terem a certeza que a vida deles fora longa e justa e que partiriam sem a necessidade dos filhos serem pais dos pais,
dos pais serem filhos dos filhos.