“E quando passa em gritos de carpideira, pondo crepes de luto solidário pelo trilho afora, murcham-se-lhe as farfalhudas flores do vestido, engrossam-se as corolas em nódulos de sombra, espreguiçam-se as sombras em descampados fantasmas de tão sozinhos. Um a um, vão-se debruçando trémulos os dedos tristes da meia-noite para agora cerrarem as pálpebras à terra: já nada nela freme, já nada nela se rebela, no seu rosto atónito, ministra do medo, alisa-lhe a morte a derradeira ruga de insubmissão. Pela janela, ninguém chora na cidade: todo o seu alto crepitante protesto é já lisura aturdida e dó de vexação. Rindo alto, há um caroço de silêncio atravessado pelo lume na garganta das matas escuras. E ninguém pia um ai, dos montes dorme o peito sem gemer palpitação, a sós com a sua alastrada ferida aos gritos, quebrado e frouxo até à parálise do vento: vergado pela humilhação do fogo, o nervo tenso da esperança de Laura afrouxa em cinzas, fumegando na escuridão.”
«Sonhar Com Ladrões» conta a história – ficcional – de uma mulher (Laura) pós-moderna confrontada com os desafios do seu próprio crescimento. É um projecto policoncetual do psicólogo e artista Carlos Marinho. Uma combinação entre ensaio científico, escrita literária e ilustração por técnica de colagem (de Tom Adams a Robert Maguire, Coby Whitmore e Sally Edelstein, aos anúncios sexistas dos anos 50 e 60…)
Todo o projecto vibra pela intersecção de duas perspectiva distintas: uma psicológica, vazada no conceito de individuação conforme proposto por Carl Gustav Jung; e uma outra, de cariz sócio-político e filosófico-ideológico, vazada nos esforços feministas de segunda vaga, valorizadores e celebratórios das qualidades e capacidades particulares das mulheres, com particular destaque para as questões da sexualidade.
«Sonhar com Ladrões» é exibido em 15 pranchas de texto (capítulos) a que se fazem corresponder 15 telas com as respectivas ilustrações.
A exposição ficará aberta a visitação até ao finissage, a 15 de dezembro, no contexto do qual será revelado o nome do vencedor/a da 1ª. Edição do Concurso Literário «Arte CresSendo».
Days Are
RUA MIGUEL BOMBARDA, 124-SALA A
Porto
«Sonhar com Ladrões», num enquadramento de uma silhueta feminina, numa composição de dentro para dentro, empurra cada um de nós como protagonistas da sombra de Laura, num espaço fechado por medos, enfrentado o tempo enquanto interrogação de espelhos paralelos. Tendendo a transformar-se num dos grandes projectos artísticos de Carlos Marinho.